segunda-feira, 5 de maio de 2008

Em Curitiba novamente


De Kathmandu a Curitiba, foram umas 36 horas...

Depois de pestanejar por 15 horas, acordei no sábado, numa ensolarada manhã outonal, adaptado ao fuso, ao horário, à vida e aos costumes locais.

Fui almoçar. Sábado pede feijoada! Renderia homenagem à nossa terra amada, pátria mãe gentil, onde as aves gorjeiam como em outros prados não o fazem. Prato bem servido, feijão tinto, com paio, costelinha suína, linguiça, carne seca e outros defumados, acompanhado de arroz branco, farofa, couve, cortada fina e refogada em azeite de oliva, e laranja, cuja diretoria do restaurante teve a perspicácia de servir em três opções: laranja-lima, pêra e baiana.

Tive o desprendimento de tomar dois chopp, produção caseira de um mestre cervejeiro austríaco que por aqui reside há mais de 40 anos, servidos em temperatura próxima aos 4 graus Celsius, em copo alto com 3 dedos de espuma densa que vencia a borda para fazer-se escorrer pela superfície externa. A moça que mos trouxe fora privilegiada pela natureza e pelos deuses de plantão no momento de seu nascimento, e por eles supervisionada com igual esmero em seu desenvolvimento. Com seus 1,70 m, 60 quilos bem distribuídos, olhos verde-esmeralda, cabelos negros, fartos, esvoaçantes e longos à altura da cintura, voz levemente rouca e demais atributos que a genética afrodescendente deu às mulheres dos trópicos, fez-me desviar a atenção do líquido dourado por alguns minutos, eventualmente deixando passar despecebidos alguns detalhes relevantes da referida bebida.

O buffet de sobremesa - que contava com doce de abóbora, de mamão e cidra, pêssego em calda, cocada branca e escura, pudim e tortas a perder de vista (sobressaindo as denominadas Marta Rocha, Alemã e Nega Maluca) - não foi, contudo, bem aproveitado, faltando-me apetite para tanto. Saboreei apenas seis das espécies acima referidas.

O preço total de nababesca refeição ficou abaixo de 1.200 rúpias, mas nem este custo pude suportar, já que um amigo insistiu em quitar toda a despesa, argumentando que estava eu com uma aparência faminta de despertar a misericórdia no coração mais duro e, já que ele não contribuía regularmente para o Fome Zero, tentaria auxiliar minha adequada nutrição em ao menos uma oportunidade.

Após sorvido o café espresso, voltando meus olhos ao amplo e arborizado pátio interno, ocorreu-me como é desnecessária e valiosa a vida, assim como cada passo naquela trilha, com seus vários milhares de metros, titubeantes entre aclives e declives, onde o espírito quase se desprega do corpo terreno para voar livre e galgar os degraus que faltam à evolução plena. Melhor seria não ter existido. A matéria que ora chamo de minha estaria polvilhada no éter, integrada a todo o Universo. Mas se aqui estamos, desfrutemos os frutos.

Nem o maior dos banquetes já servido neste mundo ou em outros porventura habitados substitui um ovo cozido no cimo de Chhomrong.
Acredite quem quiser (embora seja prudente duvidar).