quarta-feira, 30 de abril de 2008

Descendo a montanha











ABC - Birethanti

Machapuchare Base Camp, Deurali, Himalaya, Dovan, Bamboo, Sinuwa, Kuldhigar, Chhomrong, Jhinu, Ghandrung, Kimche, Syauli Bazar e Birethanti. Retorno à civiliação, etapa vencida em três dias, confirmando o ditado popular que apregoa ser a ajuda dos santos mais eficiente quando esta se dá no mesmo sentido da força da gravidade.

Ainda na trilha, na primeira possibilidade de contato telefônico, Poli liga para casa:
"Oi Amor, tudo bem com você? E as crianças? Comigo tudo bem, estou morrendo de saudades. A propósito, você sabe como foi o jogo do Palmeiras e São Paulo ? "
Costumo dizer que com uma preparação física adequada, um equipamento de qualidade, alimentação balanceada, acompanhamento medico permanente, apoio emocional nos momentos mais difíceis, uns 500 balões inflados com gás hélio amarrados à cintura, duas injeções de glicose na veia todo dia, um curso rápido de levitação, um tênis motorizado e muita fé, qualquer um pode fazer este roteiro.

Exageros à parte, fazer uma caminhada no Himalaia não é como passear no parque, mas também não é o mesmo que chegar ao topo do Everest. A estrutura da trilha é muito boa e os guias e carregadores foram excelentes.

Tenho imensas saudades desta viagem. Se você um dia já pensou em fazer este roteiro, vá sem medo, antes que o reumatismo tome conta :)

p.s.: A nossa amizade continua (eles realmente são muito pacientes comigo). Houve cinco eventos de reencontro entre jantares, churrascos e aniversários desde nosso retorno, em maio/2008. Em 2009 pretendemos ir juntos à África, se a cotação do dólar permitir :(

Fotos da viagem são exibidas no site do Rafael (
www.rafaelcosta.com.br), link “pessoal”. A segunda foto da esquerda para a direita tem um link “making of” com uma seqüência fantástica de imagens.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ABC

Caminhamos até o alto do canyon e entramos em um “vale” a 4.000 m, rodeado de montanhas nevadas. À frente o pico sul do maciço Annapurna; às costas o Machapuchare, uma pontiaguda montanha de 6.997 m, ainda não conquistada pelo homem.

E lá estava ele, o azulado último lodge, no Annapurna Base Camp, 4.130 m, ponto mais alto do nosso caminho. Gritos, beijos, lágrimas, fotos, brindes, comemorações, sorrisos, gargalhadas, abraços de todo jeito, de todo tamanho, com vários sentidos e direções, com significados grandes e pequenos. Os felizes conquistadores entregaram-se a prazerosa conversa, rememorando cada passo da viagem.

Em silêncio, suas mentes perceberam o propósito em cada evento que ligava o seu passado ao passado de cada ser que já havia caminhado pela Terra, à matéria que dá forma este planeta, a cada um dos átomos que vibram em choques com seus semelhantes. Assim haviam sido criadas as montanhas e nossas pernas. Aqui elas se encontraram.

No entanto, a noite reservava a mim uma surpresa. Algumas poucas horas depois de dormir, acordo em sobressalto, suando em bicas. Minha conclusão foi imediata: MORRI !!!! E estou no inferno !!!! Haveria outra explicação plausível para suor tão abundante a temperaturas negativas ???

Pois há: sopa de alho !!! Já havia tomado uma ou outra durante o percurso. Naquela noite tomara duas. Uma pedida por mim e outra que estava dando sopa na mesa, desprezada, esfriando num canto.

Noto que meu abdômen continha uns cinco litros de gazes intestinais, a pressionar meu pulmão. Meu umbigo assemelha-se ao de uma gestante. Enquanto isso Roberto “Papa-Léguas” dormia o sono dos justos na cama ao lado, imóvel, com a cabeça coberta, sonhando com uma escalada que fizesse jus aos seus talentos. Passei a noite sentado na cama, acordando e dormindo a cada 5 minutos, até que o dia amanhecesse.

domingo, 20 de abril de 2008

Chhomrong


E lá vamos nós, subindo e descendo, descendo e subindo ladeiras. De Ghorepani (2.860 m) para Tadapani (2.630 m), de Tadapani para Chhomrong (2.170). Denise sorria, saltitava e fotografava.


O impressionante nesta área, além das grandes montanhas, são os terraços. Naquelas encostas em que o desnível desaconselha a prática da agricultura, pude ver terraços a perder de vista construídos apenas com pedras, carregadas e montadas por mãos humanas.


Outro detalhe interessante é a vegetação, com muitas árvores por quase todo o caminho, que só desapareceriam acima dos 3.000 m. Nos primeiros dias caminhamos por entre a “floresta florida” dos rododendros.

Neste ponto a vedação ao consumo de bebidas alcoólicas fora reduzida a pó-de-traque e o núcleo empresarial do grupo já pensava em projetar e executar a construção de um geloduto trans-himalaico, pois a cerveja não era servida a temperaturas que apetecessem ao paladar dos consumidores mais exigentes.

Chhomrong impressionou por possuir máquina de lavar roupas e por sua longa, muito longa, mas muito longa mesmo, descida que, naturalmente, transformar-se-ia em subida no retorno. Tal assunto dominou a conversa por cinco dias (justamente quando a discussão sobre a técnica mais apurada de manejar os sticks perdera força) e só terminou no retorno, quando nosso destino converteu-se em realidade e, ali, na base montanha, atravessando a pequena ponte estendida sobre o rio que por milênios cavara aquele canyon, expiamos todos os pecados ainda restantes em nossas biografias.

Como já era de costume, saímos do alto de Chhomrong (o vilarejo ocupa quase toda a longa encosta), a 2.170 m, fomos até o fundo do canyon, a uns 1.300 m, e depois subimos a Kuldhigar, 2.540 m, antes de chegar a Bamboo, 2.310 m, onde dormimos. Percebemos que a moleza havia acabado!

Roberto “Papa-Léguas”, mestre na arte de manejar duplos sticks, ainda não havia pronunciado dez palavras desde que deixáramos o Brasil. Bocejou longamente, olhando ao infinito e além, como se pensasse aliviado: “finalmente um pouco de exercício, esta trilha já está me dando sono”.

Dali prá frente foi só subida mesmo, praticamente sem nenhuma descidinha que pudesse alegrar o coração. Próxima parada: Deurali, 3.230 m, onde, pela primeira vez houve uma gazeta quase unânime do banho diário. Para tanto contribuíram alguns fatores: o frio e uma chuva de granizo desaconselhavam perambular ao ar livre. E, mais que tudo, a Tiffany havia se adiantado ao nosso grupo, não mais fazendo sentido nosso esforço de melhoria estético-higiênica.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ghorepani

Ao final do segundo dia de caminhada, estávamos em Ghorepani (2.860 m) e pude verificar que a civilização chega muito além do que se poderia supor, audaciosamente indo onde nenhum trator jamais esteve...

Ghorepani, a Campos do Jordão do Himalaia, com uns 50 lodges, alguns enormes, possuía também uma lan house !!!!!!!!!!!! Que funcionava até no escuro, veja só. Não desejo assustar os mais impressionáveis, mas para mim o dono do lugar tem parte com o demo. Como é que ele faz funcionar um computador sem energia elétrica ?????? À corda é que não pode ser.

Ghorepani nos trouxe, pela primeira vez, a visão desimpedida do Daulagiri e de
 dezenas de quilômetros de imensas montanhas com altura acima de 7.000 metros. Me deu aquela vontade de dizer pra mim mesmo: “Puta que o pariu, ainda bem que eu vim nessa viagem. Como pode tanta gente desperdiçar suas férias viajando pra lugares monótonos como Paris, Londres, Milão e Nova York”.
E nem suspeitávamos que o grande momento da viagem estava prestes a acontecer. Ali conhecemos Tiffany !!!! Foi como se a lua estivesse diante de mim a refletir a luz do sol. Canadense, alta, loira, coxas fortes, busto proemimente, olhar firme, lábios doces, andar balouçante a um só tempo determinado e gracioso, simpática, culta, independente, moderna, desembaraçada, viajada e que, ademais, falava fluentemente inglês. Provocaria  um incontornável cisma no grupo, pois as moças não se conformaram com a atenção que nós, educados cavalheiros que somos, dedicávamos àquele anjo sem asas colocado em nosso meio por intervenção divina.
A perfeição em forma humana acompanhou-nos ainda por três dias, nos quais os casados suportaram beliscões à altura dos rins e greve de sexo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Começa a Caminhada

Era chegada a hora. Na manhã do quarto dia ficariam para trás todas as dúvidas e planejamentos, receios, medos, pavores, pânicos e comiserações, debates acalorados sobre o melhor tecido a usar na trilha, o diâmetro mais adequado das abas do chapéu, o FPS do filtro solar, os medicamentos necessários, úteis, desejáveis, indiferentes, evitáveis e proibidos, as técnicas de alongamento, o modo perfeito de empunhar um stick ou laçar os cordões das botas. Objetivo final: Annapurna Base Camp, a 4.130 metros.

Meus amados amigos não vão gostar de ouvir isso novamente, mas não resisto à tentação de dizer que era uma caminhada de mauricinho, estilo paulistano, mega-estrutura com uma legião de guias, sherpas e carregadores a nos ciceronear, reservas em lodges, banhos quentes, shows musicais, três refeições quentes por dia, à la carte, com direito à entrada, prato principal e sobremesa. Em casa eu não como tanto...
Nossa única preocupação seria não se perder no caminho e carregar uma mochilazinha com garrafa d’agua, câmera fotográfica, um impermeável... coisas deste tipo. Além de, claro, chegar lá.


Fomos levados até Nayapul (1.070 metros) por um veículo automotor de transporte coletivo adequado às estradas locais, atravessamos uma ponte para entrar na Área de Conservação do Annapurna e... “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”: o trekking começara!


Primeira impressão: a trilha era toda calçada com pedras planas, em longas escadarias, uma trilha muito mais fácil e confortável do que um caminho irregular. Porém, tantas pedras não estão ali à toda, Gafanhoto: o desnível é animal! Trechos planos, semi-planos, quase-semi-planos ou com aclive em ângulo civilizado não seriam comuns. Ou subíamos muito, ou descíamos bastante.
O briefing matinal que o ingênuos turistas fariam ainda por alguns dias mostrou-se um tanto desprovido de utilidade prática. As informações do roteiro diziam algo assim:

Tikhedhungga / Ghorepani
A partir de Tikhedhunga a trilha segue
bastante acentuada com destino a Ulleri, um vilarejo sherpa a 2070 mts. A partir
daí a subida fica mais amena e com belos visuais da floresta de Rhododendron,
passando pelos vilarejos de Bahunthanti e Nayathanti. Mais algumas horas de
caminhada e chegaremos em Ghorepani, nosso destino final de hoje.”
O que o roteiro não dizia é que o Nepal tem evidentes deficiências de terraplanagem: nós sairíamos de 1.430 m, subiríamos a uns 2.000 m, depois descemos até 1.200 m e subimos tudo novamente até 2.860. Mais ou menos isso. Denise, a ginasta, nada respondia às queixas dos mortais: apenas sorria e fotografava, saltitando degraus de par em par.

O primeiro contato com os alojamentos (londges) foi deveras positivo. E assim foi do primeiro ao último. Funcionam muito bem, com quartos simples e confortáveis, colchões e travesseiros, lençóis e fronhas. Houve, entretanto, certa divergência nas opiniões quanto à periodicidade de troca destes últimos, variando de semestral a bienal, dependendo a quem fosse perguntado.

E havia água quente, um presente dos deuses que abundam na religião hindu. O estoque de água caliente não chegava para banhar a todos, mas logo descobrimos o utilíssimo recurso do banho de canequinha, praticada com grande sucesso de público desde os primórdios da civilização latino-judaico-cristã-euro-ocidental. Pedia-se ao estalajadeiro um balde de água quente, o qual era providenciado tão logo o fogão estivesse desencumbido do preparo do jantar. Quem jamais esteve em situação semelhante por certo não imagina como é boa a sensação de não ter de mediar conflitos internos por horas a fio antes de eleger entre tomar banho de água gelada e dormir sujo.

Dormimos em quartos quentes, secos e limpos todas as noites do trekking, o que é infinitamente mais confortável que dormir em barracas.

Nos vilarejos e por toda a trilha há comércio de gêneros de primeira necessidade: chocolates, refrigerantes, batata-frita, lenços, papel higiênico. E também de artesanato manufaturado mundial, objeto de pesquisa constante de Daniela e Cris Japa, as quais distribuíram rúpias e mais rúpias pelo caminho em troca de anéis, brincos, braceletes, tecidos, pashminas, sandálias, objetos de decoração. A cada nova parada os carregadores arregalavam os olhos e procuravam estimar quantos quilos adicionais haveria na bagagem até que acabasse o dia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Pokhara, Nepal

Embarcamos para Pokhara, a Bariloche do Nepal, com seu imenso lago à guisa do Nahuel Huapi. Um urbanismo que nos lembraria Vancouver, sobretudo porque nosso último termo de comparação era Kathmandu.

Qual não foi nossa surpresa ao ver todos os produtos Cara Nuerte novamente, em enumeráveis lojas dispostas por longa avenida. Um pergunta ocorreu-me naquele momento e não deixa minha memória desde então: qual foi mesmo o motivo da manobra militar das compras no escuro da noite anterior, se poderíamos, no dia seguinte, adquirir os mesmos produtos à luz solar ????

Thamel, Kathmandu, Nepal

Ontem fomos às compras, com a maioria do grupo ainda concentrada em adquirir equipamentos para a caminhada. Pressinto que esta realidade irá mudar, pois há uma dupla de amigas fazendo grande planos para compras de qualquer coisa que passe diante de seus olhos e cartões de crédito.

Inicialmente os conscientes turistas, que muito valorizam a propriedade intelectual e industrial, jamais lhes passando pela mente incentivar a pirataria em qualquer ponto do globo, foram à loja da North Face: produtos de primeira :) preços de Primeiro Mundo :(

E foi ali que Sabino tornou-se o melhor cliente individual da North Face desde a fundação da empresa... Os astronautas vão à Lua com menos equipamentos que os adquiridos por nosso citado colega.



Saindo de lá passamos à filial da 25 de Março no oriente, ao seja-o-que-Deus-quiser nas lojas Cara Nuerte do Thamel (bairro que concentra o maior movimento de turistas).

“Cara Nuerte” é uma carinhosa referência a um certo país da América do Sul, nosso vizinho, no qual se pode encontrar larga gama de produtos importados a preços módicos, desde que a maior preocupação do cliente não seja a procedência das mercadorias.

No Thamel encontraríamos tudo o que precisássemos e não precisássemos: luvas, gorros, parcas, óculos, camisetas, botas, meias, calças, ceroulas, piquetas, piolets, crampones, capacetes, barcos, remos etc. etc. etc. de todas as grandes marcas mundiais, com a vantagem de serem fabricados ali mesmo, a meia quadra de distância, o que proporcionava um preço altamente competitivo.


Estávamos uns 10 de nós em uma espaçosa loja Cara Nuerte, com seus 15 m2 de tamanho e 8 toneladas de produtos engenhosamente distribuídos até o teto, quando acaba a energia elétrica.

Esmorecer nunca, desistir jamais! Tínhamos uma missão a cumprir.

Desconfiamos que o blecaute era uma tática utilizada pelo líder Jota para testar nossos nervos, sagacidade, auto-controle, espírito de equipe e liderança, conhecimentos de tática e estratégia, talento, senso de localização e espaço, e capacidade de solucionar problemas em condições adversas. Continuamos, compactamente adensados, escolhendo os produtos sem ver ou respirar, sem se importar com cor, modelo, tamanho ou mesmo utilidade da peça selecionada. O importante era sair de lá com o menor números de escoriações possíveis, carregando sob os braços os troféus do shopping-aventura.

O próximo desafio seria encontrar o hotel sem uma lâmpada acesa na rua.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Kathmandu, Nepal

Kathmandu é suja, com trânsito completamente zoneado, sem semáforo, sem muitas calçadas para pedestres e com uma noção não muito clara do que seja mão e contramão. A água é encanada, mas não tratada, por isso nosso líder Jota recomenda só tomar água mineral e que também escovar os dentes com esta mesma espécie de água (obs.: esta foi a primeira de muitas recomendações solenemente ignoradas...)


Cada turista faz-se acompanhar por vendedores por pelo menos, 500 metros, antes que estes desistam da vítima. E se chegamos ao ônibus antes que a desistência seja concretizada, eles ficarão lá até que o veículo vá-se embora. Porém, nós, turistas provenientes de país emergente integrante do BRIC, criaturas sagazes que somos em identificar e aproveitar as boas oportunidades que a globalização possa nos proporcionar, verificamos de pronto que o momento decisivo para a finalização das negociações é aquele em que o motorista dá a partida no veículo. Assim, premido pelo tempo e pelo ruído do motor em elevada rotação - fenômeno provocado pela impaciência e, sobretudo, pelo pesado pé do condutor -, na iminência de ver o potencial cliente evadir-se do local, o mercador acaba por ceder generosos descontos.



Esta experiência trouxe-me o primeiro ensinamento oriental: a necessidade da meditação. Seria completamente impossível agüentar tanto vendedor correndo atrás da gente sem uma ajudazinha de Buda, Vishnu, Krishna, demais avatares e outras divindades auxiliares.

Nepal

11 de abril de 2008, Aeroporto de Guarulhos, encontro com outras 18 pessoas que vão ao Nepal, trilhar um dos populares roteiros de caminhada do Himalaia, na área do maciço do Annapurna.

Pra começar, achei meio doideira da agência (Venturas e Aventuras) levar num só grupo­ pessoas com condições físicas e experiências prévias um tanto indefinidas. Tínhamos ao nosso lado, porém, um grande trunfo: João Ricardo, o Jota, “o cara”, a lenda viva do ecoturismo nacional.


Depois soubemos (ou melhor, intuímos) que éramos uma espécie de grupo-cobaia. O Nepal era um Estado Monárquico Absolutista até a década de 1990, quando foram iniciadas as reformas democráticas. A transição já não estava muito fácil e tudo ficou pior quando, em junho de 2001, o Príncipe Dipendra, herdeiro do trono, matou a família toda e suicidou-se. Resumindo a história, ele queria casar com uma moça, não o deixaram e ele, muito macho e embriagado, atirou em todo mundo durante um jantar de família. Um tio de “El Matadar” assumiu o trono. Os maoístas que perambulavam por lá há décadas começaram uma guerrilha que tornou o turismo um tanto arriscado.




Para resolver o problema foi promulgada, em 2007, uma Constituição Provisória e convocadas eleições para uma Assembléia Constituinte. Chegamos, inclusive, no dia desta eleição (13/04/2008). Os maoístas elegeram 2/3 dos representantes da constituinte e este foi o fim da monarquia no Nepal.

Pois bem, agora os turistas poderiam voltar ao país pacificado e a Venturas, afastada de lá por seis anos, levava seu primeiro grupo. E que re-estréia: 19 pessoas!

O grupo é formado por Jota, Toni, Fernando, Fernanda “Frida” Bello, Fernanda Finatti, Denise, Paulo Costa, Ludmila “Poliana”, Roberto “Papa-Léguas”, Sabino, Rafael, Claudia, Cris “Japa”, Cris “Loira”, o outro Roberto não-adjetivado, Daniela, Milton, Poli e eu. Pessoas de profissões variadas, idades nem tanto: a maioria está entre os 40 e 50 anos. Dois casais completos, oito casados sem seus cônjuges e sete solteiros. Seis patrões, cinco funcionários do setor privado, quatro servidores públicos e quatro profissionais liberais. Nenhum estagiário ou aposentado. Todos heterossexuais, aparentemente.

Graças a Deus um dos meus temores não se confirmou: não havia nenhum místico militante no grupo. Morria de medo de ter que ouvir, por 20 dias, tentativas de conversão da minha alma, técnicas do abhyâsa, sutras de Patanjli: Anubhûta-visayasampramosah smrtih. Já estaria imensamente feliz se fosse capaz de pronunciar alguma coisinha da última linha.


Depois de umas 30 horas de vôo e conexões em Londres e Doha, chegamos a Kathmandu, que tem um fuso-horário um tanto esdrúxulo: 8:45 hs. adiantados em relação ao horário de Brasília. E o país está no ano 2.065. Este povo do oriente está realmente à frente do nosso tempo.