quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Cerimônia do Adeus

Estou me mudando. Hoje é a última noite aqui e é hora de me despedir. Minha cerimônia do adeus ao apartamento que me acolheu por um ano, quatro meses e seis dias será em frente à TV que me fez companhia em grande parte deste tempo. Farei a despedida da TV, por enquanto. Depois faremos cerimônias com a vizinha e os porteiros.

Ainda não comprei televisão para a nova casa e agora comprar TV é algo muito complexo, com seus vários mecanismos, tamanhos e megapixels. E haverei de comprar também um "rômi tiati", com suas dezenas de saídas e centenas de watts de potência. Com tanto equipamento a Fátima Bernardes, por certo, há de rejuvenecer 10 anos, embora com tantas opções e consequentes indecisões a aquisição talvez demore tempo equivalente.

Hoje, porém, tenho à minha frente uma TV 20'', com seu bom e confiável tubo de imagem, acusado outrora de ser emissor dos perigosos raios catódicos (na primeira oportunidade procurarei na Wikipedia que raios de raios são esses). Continuará aqui mostrando imagens a quem se sentar defronte dela, enquanto houver ondas no céu e corrente elétrica que a alimente, mas não posso deixar de me iludir imaginando ter ela uma metaconsciência a permitir alguma afeição por quem lhe dedicou tanta atenção.

O início da despedida não foi das melhores: a final do Aprendiz 6, O Universitário. Não vi nada deste programa, mas pelo ritmo da emocionante final não perdi muita coisa dos outros multicitados quinze episódios. Seria preferível ter visto a final da segunda divisão do campeonato goiano de futebol. Neste chamado mundo corporativo os candidatos a estagiários parecem falar as mesmas coisas que os honoráveis conselheiros. Por isso, recomendo que contratem só estagiários, pois assim restará ao menos a esperança de mudança no discurso no fututro.

O Jornal do Boris Casoy começou depois do Aprendiz, à 1:00 da manhã. "Isso é uma vergonha !!!" Olha o horário em que colocaram o Boris... Aposentadoria à vista.

E descubro que tem Jornal do SBT no mesmo horário. O que está havendo com a programação da televisão brasileira ??? Por que alguém ficaria acordado até esta hora prá saber do auxílio moradia que o Saney recebe, se nem mesmo Vossa Excelênca, o Senador, o maior interessado, sabia que o recebia ???

"A Noite é uma Criança" está lá, firme e forte. O Otávio Mesquita está tentando vencer a Hebe no quesito maior tempo como apresentador de programa desinteressante.

Vejamos... o que temos em outros canais... Achei! Reprise do Top Top na MTV. Adoro este programa com seus rankings avacalhados. Tema de hoje: bandas fictícias. The Wonders ficou em 10º lugar. Que injustiça !!! Prá mim foi a banda fictícia que mais convenceu como banda de verdade, tanto que só agora descubro que ela não existia de fato. hohoho

TV Justiça: Marco Aurélio profere um longo voto com grande ênfase nas sílabas tônicas e intervalos enigmáticos entre uma frase e outra, momento em que se balouça na cadeira à procura do melhor ângulo para abordar o microfone. Parece-me mais empolgado que de costume e logo descubro o motivo: é uma reclamatória trabalhista !!! Matando saudades de tempos idos, fala com veemência: "talvez numa visão preconceituosa da Justiça do Trabalho..." Marco Aurelio, isto não te pertence mais, meu filho. Agora você é chique, está no Supremo, esquece esse seu passado ingrato.

Na Record, a Igreja Universal debate o "fenômeno" das piriguetes. É um tanto curioso, mas não deixa de ser interessante ouvir repetir-se o nome do Senhor prá lá e Senhor prá cá, vendo cenas de rebolados em super close.

Que sorte a minha, está começando um filme na Globo: "Mulher Solteira Procura 2". Uau !!!! \o/ Yes !!! Um ménage à trois insinuado já no título. Vamos ver como será isso !

Hummm... não é bem o que eu esperava. O "2" refere-se apenas à segunda parte de outro filme com praticamente o mesmo roteiro. A moça solteira em questão procurava outra moça prá dividir apartamento, porque tinha brigado com a amiga má com a qual dividia apartamento atualmente. A briga se deu pq a amiga má dormiu com o namorado da mocinha. A mocinha então achou uma amiga querida que no decorrer do filme mostrou-se uma psicopata e matou a amiga má, justamente quando esta estava ficando boazinha. Céus !!! Alguém é pago prá escrever um roteiro assim.

São 3:00 da manhã. Vou dormir que amanhã é dia de mudança. Esperava mais desta despedida :(

terça-feira, 19 de maio de 2009

Reflexões de Ademar Cobra

Ademar está inquieto e começa suas reflexões acerca do futuro:

"Se for prá acabar, o mundo vai acabar em papel, em cachorro ou em crente. Um deste três. Porque eles só aumentam !!!!"

segunda-feira, 18 de maio de 2009

No princípio era o Verbo

Volto ao meu abandonado blog com a intenção de atualizá-lo, depois de 2 meses de ausência. Confesso que estou sem assunto.
Vamos tentar começar pelo princípio...

São João Evangelista nos diz: "No princípio era o Verbo e todas as coisas foram feitas por meio dele". Concluímos, portanto, que o Verbo nasceu impessoal, sem um sujeito que lhe comandasse a ação ou um predicado sobre o qual pudesse projetar seus efeitos.

O Verbo, pura ação, disse: “Faça-se o existir, para que doravante toda a criação, nova ou antiga, tenha o atributo da existência”.
Por óbvio, antes que o verbo existir fosse criado, coisa alguma existia !!
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E o Verbo pensou: “De que vale ganhar o mundo inteiro se não há súditos a comandar”. O Verbo disse: “Faça-se o advérbio”. E o advérbio foi feito. E o Verbo percebeu que era bom. Bom pra ele, claro, e não pra quem teria, no futuro, de aprender a lidar com essa que é a mais obscura das classes gramaticais.

O Verbo criou nomes e pronomes. Criou o sujeito e disse a ele: “Tu poderás pensar que comanda a ação, mas saiba que nada podes sem o verbo. Estarias condenado ao um estado inerte, sem nada fazer, pensar ou sentir. Ou mesmo abster de praticar qualquer ato. Sem o verbo, sequer sofrer tu podes. Ou ainda sua abjeta existência ignorar. Se hoje te crio é para que mais verbos possam ser nascidos e usados e assim maiores serão os meus horizontes”.
E acrescentou: “Fervilhe de verbos a criação, que todos os atos, estados ou fenômenos possam ser por ele designados. Produza a terra um novo verbo a cada novo fenômeno. Sede fecundos, verbos, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a, pois está para nascer aquele que se valerá do verbo como nenhum outro. Se hoje escrevemos com vento, ele escreverá com fogo e sangue”.

E então o Verbo criou o Homem e disse a ele:

“Tu serás o senhor da língua falada e da língua escrita, da gramática, da morfologia, da fonética, da sintaxe e da semântica, e de todas as demais complicações linguísticas que puderes inventar. E quando isso não mais bastar, farás a reforma ortográfica. E farás com tuas palavras o que quiseres, embora tuas palavras possam fazer de ti muitas coisas.
Assim como o sujeito, poderás pensar que comanda tuas ações e teu futuro. Tuas ações, porém, estão escritas pelos verbos que existem muito tempo antes de ti. Não podes agir sem eles ou contra eles. Teu futuro será cada dia menor. O passado e seus tempos pretéritos, este sim crescerá a cada dia, a cada palavra saída da tua boca. Quando tiveres empilhado montanhas de palavras e teu passado for grande o suficiente, nenhum espaço restará para teu futuro.”


O Verbo deu ao Homem a pílula falante e o fez dormir. Fez-se noite e amanhecer.

O Homem acordou com um comichão na língua, nominando tudo o que via, cheirava, tocava, ouvia, degustava e imaginava. E inventou novas palavras e novas línguas. O Homem deu nomes à Lua, ao Sol e às estrelas. E aos planetas visíveis e às luas destes planetas. E descreveu seus movimentos. E assim o Verbo pôde deixar a órbita da Terra.

O Verbo divertia-se e estava satisfeito, e disse: “Faça-se a árvore do bem e do mal, para que os adjetivos sejam multiplicados, e faça-se a vaidade no Homem, para que suas palavras jorrem de sua boca e sejam mais numerosas que as estrelas do céus e os grãos de areia de todas as praias que o mar puder criar”.

Todas as palavras um dia já ditas ou escritas, em seu conjunto, têm valor menor do que um caco de telha. Enfileiradas e amontoadas, gastas como tudo que é por demais usado, podem ser repetidas ou esquecidas, sem que com isso mude algo da matéria que as cerca. O Homem, contudo, deixou de construir, conservar e destruir para abraçar a ilusão de poder mudar a si e ao mundo usando palavras.

E o Homem, tomando para si a função de criador, fez a metáfora. Disse: “Faça-se o pensamento chinês, para que frases tolas pareçam ter a profundidade de um oceano”.

Juntando uma palavra à outra – por crer que juntas devem conviver, por acreditar que falar seja seu veículo no mundo, por gostar menos do ar que invade seus pulmões do que do som produzido por ele quando se vai – o Homem fazia inimigos e desentendimentos, dentro e fora de si. Nesta obra de barroco prosopopeico, o Homem tropeçava em palavras, que só por outras também podem ser explicadas, um novelo de fios embaraçados que jamais será desfeito e essa confusão nunca acaba. Na boca do Homem as palavras puxam uma à outra e jorram em torrente ao abismo, arrastando atrás de si o falante.


E o Homem, de tantas línguas, sentiu-se só.

Lembrou-se da advertência do Verbo. O Homem já não vê o mundo e o mundo não o vê. Apenas as palavras saídas de sua boca projetam-se no mundo em forma de uma parede intransponível, mais alta a cada palavra dita. Busca consolo em outras palavras, pois apenas palavras lhe restam. Um espírito solitário procurando companhia num animal de estimação já morto.

E um homem disse a outro homem:
Namastê ! O inconsciente pré-verbal que habita em mim saúda o inconsciente pré-verbal que habita em ti”

E fez-se entre humanos a comunicação viável: muda
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