sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pós-Pago

Senhoras, senhores e praticantes de outras modalidades
Tenho um anúncio a fazer: Hj tornei-me um cidadão de primeira classe !!!! Sou o feliz assinante de uma conta pós-paga de telefonia celular !!!! \o/
Vc acha isso banal ??? Pode até ser, mas não para todos.

Voltemos um pouco no tempo....

Era uma vez eu aqui voltando a Curitiba, cidade que me abrigou por mais de uma década antes que dela me distanciasse por outro período quase equivalente.

Em pleno verão ameno de 2008, adentrei a uma elegante loja da TIM no mais tradicional dos shopping centeres da cidade para adquirir o gadget que se tornou uma extensão corporal de todo ser humano ainda vivo no mundo, contanto que tenha uma rendazinha disponível para tanto.

Qual não foi minha surpresa quando me pediram comprovante de endereço...
"Para que isso ???" penso eu. "Se o aparelho é móvel, com certeza ninguém terá de comparecer à minha residência para instalar o que quer que seja."
Meus argumentos foram vãos... sem comprovante, sem telefone...
Tinha eu um contrato de aluguel, mas este não valia pq não tinha firma reconhecida em cartório e logo descubro que a assinatura só poderia ser autenticada com a presença física do locador no tabelionato...
Incomodo demasiado para o meu despreocupado locador que sequer garantias ou avalista me solicitara no momento da locação.

Para minha maior surpresa, a moçoila atendente disse-me à época que se eu morasse num hotel tudo seria mais simples, pois bastava uma declaração estalajadeiro, sem qquer reconhecimento de firma...
Por um momento, pareceu-me que a declaração escrita por um completo anônimo, encimado por um logotipo de hotel, teria poderes um tanto surpreendentes.

Sentindo o cipoal de complicações a subir pelas minhas canelas perguntei inocentemente se haveria por acaso alguma alternativa e fui então brindado com uma linha pré-paga.
Mal sabia eu que consequências tem estas decisões que à primeira vista nos parecem simples e racionais...

Caíram as folhas das árvores, sobreveio um inverno frio e úmido, uma primavera reluzente e a aquisição de um imóvel próprio. Pensei então: "Agora sim, este apartamento trará a certeza de que não mais duvidarão do meu local de residência". Agora tinha uma escritura pública, em papel timbrado com o Brasão da República e que, em tese, deveria ter muito mais poder que o logo de um hotel.
Mais uns meses para reformazinhas e mobília e finalmente estava eu instalado em meu novo lar doce lar.

Encho-me de confiança e bom humor e volto à TIM, a passos largos.
Papelada toda na mão, sorriso de orelha a orelha: "Hoje eu deixarei esta categoria de seres inferiorizados, portadores de celular pré-pago !!!!"
Ledo engano...

Após me inteirar das dezenas de planos e centenas de promoções, elegi a combinação que me pareceu mais adequada ao meu perfil de consumo. No momento de registro no sistema, ouço do atendente: "Lamento, senhor, seu CPF está com restrição".

Ora isso deve ser um engano. Uso meu CPF todo dia na Receita prá entrar nos sistemas de lá e com certeza ele não tem nenhuma restrição.
Logo em seguida percebo, contudo, que meu CPF continuava válido e regular como sempre foi e que essa era apenas uma forma elegante de dizer que, na verdade, o problema era com a minha pessoa mesmo. Estavam envolvendo meu inocente CPF nisso sem necessidade alguma.

Para a óbvia pergunta que se sucedeu ("que restrição é essa??"), houve uma resposta inusitada, para dizer o minimo; há algum tempo seria chamada de kafkaniana: "Não temos como saber, senhor. Sabemos apenas que seu CPF está com restrição".

A lisura e a excelência do meu CPF estava sendo colocada em dúvida e eu nem tinha como saber o motivo.
Primeira regra na relação cliente-empresa: não tente conversar, não tente explicar e não tente entender. As políticas da empresa estão fora da sua órbita de influência e é mais fácil modificar a Lei da Gravidade do que os procedimentos das telefônicas. Portanto, não adiantaria brigar para defender a honra do meu CPF, inclusive pq quem o sujou era um inimigo invisível.

Estava abalado psicologicamente. Me senti um torcedor do Estudiantes, vendo o time, por dois jogos, levar gols nos últimos minutos do jogo, o que pôs tudo a perder. Tratei de descansar a cabeça e continuei a percorrer as bancas de jornal para a compra créditos a serem carregados na minha conta pré-paga, repetindo o lúdico ritual de raspar o cartão antes de digitar o número no aparelho.

Este ano, cumprindo as tradicionais promessas de Ano Novo, fui remexer este assunto e descubro, após um processo investigativo que faria corar de inveja Sherlock Holmes, que a Brasil Telecom é que tinha manchado a honra do meu CPF. (um parêntesis, amigo ouvinte, veja só o que acontece nessa nossa civilização latino-judaico-cristã-ocidental: prá conseguir um celular pós-pago eu descubro que existe uma espécie de SPC das telefônicas: sujou com uma, sujou com todas...)

Foi-me então fornecido um denominado "número fictício" (hummm presumo que alguém por aí está dividindo os números entre "ficcionais" e "baseados em fatos reais") e fui orientado a comparecer a uma casa lotérica para pagar o débito. Por um momento pressenti que talvez fosse mais fácil ganhar na Mega-Sena que desenrolar esse novelo de encrencas.

Dirijo-me à casa lotérica e pago o débito. Com o recibo na mão (sim, só soube do motivo do débito depois de pagá-lo), observo entre várias informações um número que minha memória indica ser conhecido....

O número reconhecido na fatura, encondido entre vários outros, era do meu antigo telefone fixo em Joinville. Quando vendi a casa, não desliguei o telefone para não deixá-la sem o alarme+monitoramento. Alguma conta ficou prá trás e a BrasilTelecom cometeu a indelicadeza de sujar meu inocente CPF em seu poderoso SPC sem nem mesmo me avisar de atitude tão anti-social...

Pois bem, débitos pagos em 15/03/2010 e em pouco mais de dois meses a dignidade do meu CPF estava restaurada.
Corri prá loja, fazer logo essa tal de conta pós-paga, antes que os protestos na Grécia e o quebra-quebra na Tailândia pudesse de alguma forma afetar meu crédito na praça. Afinal de contas, é uma conta pós-paga !!!! Não é uma coisinha simplesinha assim. É um título nobiliárquico da telefonia móvel, seu portador faz parte da aristocracia.

[suspiro] Amado Batista já nos advertia: "Neste mundo o perfeito não tem vida". Uma última surpresa estava à minha espera...
A promoção que me pareceu mais atraente, o Liberty 100, um plano tão fabuloso que praticamente nos ensina a voar - a R$ 49,90 mensais (argh!!! pq os departamentos comerciais não abandonam de vez estes R$ xx,90 ???) por um ano - só está disponível "para novos clientes"...
Caracoles, pq alguém que ainda não é cliente tem mais vantagens que alguém que já é ???? Algúem pode me explicar isso ????

Experiência recente, entretanto, ensinou-me a não discutir e nem tentar entender este emaranhado mundo das telefônicas. Isto está além do meu alcance. Ninguém iria me explicar nada, isso eu aprendi.

Ouça que coisa surpreendente: para ser um "novo cliente" bastaria que eu habilitasse outro chip, a um módico custo de R$ 1,00, o que implicaria em troca de número, "a não ser que o senhor use a portabilidade, podendo estar transferindo seu número atual para a Claro, logo ali em frente, e daqui a três dias (se não chover) poderá estar retornando o seu número para a TIM novamente, onde será recebido de braços abertos e com banda de música, agora como novo cliente".
Hummmm !?!?!?! Complicadinho, não ???

Procuro me animar: "Nem tudo são espinhos, Paulo", penso comigo. "Tratando-se de eventos aleatórios, como parecem ser as regras e procedimentos da telefonia celular, qquer coisa é possível. Variam apenas as probabilidades. E hj a sorte está ao meu lado... Yes !!!!".

Mas calejado por tantas andanças, chego a duvidar da boa-nova: "O meu CPF foi perseguido, desprezado e pisoteado por mais de um ano. Por que a TIM tá me dando essa colher de chá agora ??? Bastaria verificar em seus poderosos bancos de dados o meu número de CPF para descobrir que eu já sou cliente... esse truque de novo chip não deveria ser suficiente para enganar tão previdente companhia..."

Nesse momento uma vozinha aguda sopra ao fundo do meu ouvido: "Sua besta, sua anta, pega logo essa merda de chip, celular e número novo antes que a crise européia atravesse o Atlântico. Escreve um email divulgando o novo número e explicando a situação. Vira essa página, pelo amor de Deus, e some dessa loja".

OK, vc venceu. A vozinha me pareceu bastante convincente e tô aqui divulgando a história do meu CPF e sua conta pós-paga.