terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Venezuela

Acaba-se mais um ano. Vim à Venezuela, Reveillón em Isla Margarita, esperando encontrar palmeiras, mar translúcido e demais acessórios e apelos visuais que se pode esperar de uma ilha do Caribe. Antes, porém, há que se chegar lá.

A Venezuela não funciona exatamente como um relojoeiro desejaria e nosso grupo, não conseguindo fazer todas as reservas necessárias, teria de apelar para a fé na Providência Divina. Penso que, se o Universo todo foi criado sem nenhum planejamento preliminar, as nossas férias, um evento com dimensões significativamente menores, também poderiam dele prescindir.

Quatro já haviam chegado no dia 27/12 e tiveram que enfrentar, por seis horas num táxi, 300 e poucos quilômetros de Caracas a Puerto La Cruz. De lá, outras duas horas em ferry boat para chegar à ilha.

Chegamos Kathleen e eu ao aeroporto de Caracas às 6:00 hs. da manhã e fomos tentar conseguir um lugar em lista de espera num voo para a Isla Margarita e assim evitar o trajeto por terra e mar. Abaixo de um luminoso amarelo que identificava a empresa aérea havia, não uma fila ou lista de espera (como se espera), mas um democrático embolado de espera, o qual não discriminava sexo, cor, credo, classe social ou ordem de chegada. Ali ficamos até que uma atendente gorduchinha sinalizou à nossa intuição que começaria a escolha de alguns eleitos que desfrutariam a invenção de Santos Dumont, deixando a grande maioria no mesmo lugar onde até então estivera.

Mantenha a coluna ereta e a mente tranquila, gafanhoto! Séculos de meditação em milhares de mosteiros ensinou algo a outros que agora aproveitaria a mim.

A senhora gorduchinha observa aquele estranho ser esquálido, calado, catatônico, circundado por uma população obesa que levanta notas de dinheiro e brada pedidos antecedidos por "amor", "corazón", "mi vida", "mi cielo". Curiosa, olharia para o ser plantado tal qual uma árvore à espera do vento, com uma mochila às costas, aparentado a uma experiência mal-sucedida de cruzamento genético entre tartaruga e Marco Maciel.

Quais desígnios do destino e programas de milhagem, quais passos haveria caminhado, quantas cadeiras heveria ele sentado até chegar àquele saguão ? Por que cargas d'água, afinal, não levanta os braços ou empunha notas? Estaria sem forças após uma noite passada, entre cochilos, à base da alimentação fornecida pelo serviço de bordo?

É o momento! Fui olhado e visto. Eu existia para a aviação comercial! Estendo o braço com os passaportes à mão, à velocidade de reflexos que fariam lembrar a todos que, uma vez mesatenista, assim o serei enquanto mantiver meus membros superiores.

O tempo não pára, mas pode reduzir sua marcha se forem mais abundantes as sinapses no cérebro. Olhando os livretos, a senhora, movida pela mesma genética da qual falávamos a pouco, lembrou-se de outro saguão, assim chamado salão, e das cadernetas de baile de sua avó, envolvidas em papel de seda e guardadas como troféus, prova material dos felizes anos da juventude. As cadernetas eram compostas entre o recato e o atrevimento, obtendo o difícil equilíbrio de preservar alva a reputação e afastar o "chá-de-cadeira". Circulariam entre os pretendentes por toda a Quaresma, enquanto moças e rapazes arranjavam-se como podiam para treinar os passos de dança, até que chegasse o aguardado Baile de Aleluia, no sábado acompanhado pela mesma conjunção adjetiva.

Para onde foram aqueles dias? Que forças levaram a Humanidade a extinguir as cadernetas de baile e proliferar os passaportes? Aqui no saguão, antes chamado salão, não há esperas que valham 40 dias. Demasiados são 40 minutos. Repetem-se "amor", "corazón", "mi vida", "mi cielo", mas quem diz isto não mais pede uma dança, somente implora por assento num vôo que o leve mais longe e, mais tarde, a maiores decepções.

Por um quase momento a senhora corre os olhos pelo braço esticado e procura os outros olhos escondidos entre lentes e olheiras. "nde buscas llegar, flaquito?". Estica o quanto pode os braços curtos, ponteados por dedos roliços. Não teria chances como mesatenista. Toma os passaportes. Estava feito: nós não conheceríamos Puerto La Cruz e o ferry boat.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Oração de Natal

A mega família está reunida para a ceia de Natal. Todos de mãos dadas à espera do início do Pai Nosso, ouvimos as tias revezarem-se em agradecimentos, lembranças de fatos passados e desejos de bons dias vindouros. Tia Luzia, a mais jovem delas (segundo sua própria definição "não importa se estou velha, continuo sendo a mais nova"), toma a palavra :

Eu também gostaria de agradecer a Deus por todas as coisas boas que aconteceram neste ano e pedir, não a Deus, mas a todos que estão aqui que parem de desperdiçar cerveja. Em toda festa feita aqui na chácara a gente recolhe um monte de garrafas com cerveja ainda pela metade. Quero apelar prá responsabilidade social de todos: aberta uma garrafa, vamos até o fim dela.
Peço a Deus que derrame sua bênção sobre nós e ilumine esta família prá que faça bom uso da cerveja que tivemos a graça de receber.

Amém Jesus !

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Macunaíma

Ademar, o Macunaíma contemporâneo, o herói sem caráter, conta mais uma das histórias vividas em sua agitada juventude (isso foi há uns 40/50 anos).

Numa das festas de república em Sorocaba, uma moçoila já meio embalada pela bebida e pelos apupos da platéia, iniciou um tímido streap-tease. Porém, a sensualidade da performance sofreu grave prejuízo, pois, ao tirar a blusa, teve ela o cuidado de dobrar a peça e depositá-la cuidadosamente numa cadeira próxima.

Deve ser uma moça do signo de Virgem, com ascendente em Virgem. E Júpiter, Lua, Santurno, Vênus, Marte, cometa Halley e telescópio Hubble, todos empilhados (de modo organizado, claro) uns sobre os outros na casa de Virgem.

E deve estar virgem até hoje....hehehehehe

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

João Pessoa, Paraíba

Da janela do quarto vejo Ponta do Seixas, o ponto continental mais oriental das Américas. Com meus novíssimos óculos, quase posso divisar a costa africana. Eu sempre acreditei que o lugar mais oriental do país fosse o Bairro da Liberdade. Ou Mogi das Cruzes, Assaí ou Maringá, mas não parece ser o caso. Dizem que é Ponta do Seixas mesmo, embora não tenha visto nenhum japonês por aqui.

Sendo o ponto mais oriental, o sol nasce mais cedo. Esta noite fiz uma experiência científica: deixei a janela aberta, dormi ouvindo o marulho das ondas e acordei quando o sol estava nascendo, inacreditavelmente às 4:30 da manhã. E às 5:30 da tarde anoitece... Curiosamente não há horário de verão por aqui. Deve ser decorrente de algum costume milenar japonês, que não permite mudanças de fuso-horário no oriente.

Na Ponta do Seixas tem um marco, uma construção pontuda, e ao lado um vendedor de cocada. Prá cá um pouco, tema Estação da Ciência e Tecnologia. Projeto do Niemeyer, como quase todo prédio público do país com ares de monumento. A curva, a reta e muito concreto armado... já enjoou, não? A cada novo edifício do Niemeyer, mais admiro a Bauhaus.

Francamente, gostei mais da cocada. O nobre cocadeiro fez uma composição cocada com goiabada o que tornou a guloseima deveras interessante, além de fornecer licopeno aos comensais. Registre-se que a cocada não era de côco, naturalmente. Note que o côco é mais fibroso e mais duro que uma cocada standant. Para ser engolido, um pedaço de côco deve ser mastigado um cem número de vezes. A cocada, ao contrário, que pode ser deglutida facilmente, pois em sua composição o côco é substituído pelo caule do mamoeiro. Esta planta, tipicamente tropical, têm crescimento rápido e fornece muito mais biomassa por unidade de área/tempo, quando comparada ao côco. Ambos, côco e caule de mamoeiro, não tem um sabor muito acetuado, uma excelente oportunidade para que a indústria alimentícia engane o paladar do contribuinte.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Óculos novos

Estou usando óculos novos. Tô muito doidão... nos óculos antigos só havia lente de correção no olho direito. No esquerdo era só uma lente sem grau, usada apenas prá eu não andar por ai monocular!

Os óculos novos têm um grau no olho esquerdo e três no direito. Acho que o cérebro ainda não se acostumou e com o olho esquerdo vejo os objetos maiores se comparado ao olho direito. Tudo parece tão pertiiiiiinho... Olho quatro vezes para o semáforo e para os carros antes de atravessar a rua. Já nem sei se os carros estão parados ou andando. E juro que não fumei nada ilícito.

Começo a pensar que o John Lennon não usou LSD para compor "Lucy in the Sky with Diamonds", como todos imaginam. Apenas trocou os óculos !!!!!
hehehehhehehe

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ilha Grande - Primavera (?)


Resolvi ignorar as previsões do Climatempo e vir assim mesmo prá Ilha Grande.

No fundo queria me sentir como um humano indomado de há cem mil anos atrás, livre a caminhar pela savana africana, sem nada que o governasse, sem emprego fixo, sem pagar impostos, sem relógio, sem se preocupar com o vai-e-vem da bolsa e do dólar, sem férias e sem imaginar por que cargas d'agua alguém iria se preocupar com o clima durante as férias.

Porém, se isso fosse bom, a Humanidade ainda não teria mudado de hábitos. Férias com chuva é, literalmente, uma água. E as trilhas da Ilha Grande estão impraticáveis. Na ladeira escorrega-se. Nas partes planas o pé afunda...

Acabo de pressentir que todo o desconforto que nós sentimos em nossa sociedade moderna, com todo o cipoal de regramentos e condicionamentos, transforma-se em revolta inconsciente contra os sites de previsão de tempo. O que nós queremos mesmo é afrontar a ciência e toda sua empáfia previsiva. Materemos uma dúvida esperançosa em nossos corações. Pensamos: "Estes mauricinhos ficam com os narizes colados no computador e nunca viram uma nuvem ao vivo. Não podem estar certos o tempo todo. Vou lá e, se der sol, vou rir muito deles"

O problema é que eles acertaram! De novo!

Meu consolo é que eles não vão rir de mim hahahaha, já que nem sabem quem eu sou. hehehehehhe
UHU! \o/ se ferraram, eles não sabem quem eu sou e não podem rir de mim...

Terça-feira, na travessia (com chuva, claro) entre Mangaratiba e a Ilha Grande pensava com meus botões: "por cima dessas espessas nuvens negras há o Sol que converte, a cada segundo, milhões de toneladas de Hidrogênio em Hélio. Depois a fusão nuclear continua, convertendo Oxigênio, Carbono, Nitrogênio e mais outras coisas que não lembro, só sei que o mais pesado da fila é o Ferro. E até que todo o Hidrogênio do Sol acabe estas nuvens vão ter que ir embora".

Muito simples e lógico este raciocínio. Temo, porém, que as férias acabem antes.

Na quarta-feira acordo e abro a janela do quarto. UAU!!!! que lugar paradisíaco. A NATUREZA É TÃO NATURAL !!!!! O céu está cinza claro e isso me deixa mais animado. A camada de nuvens acima da ilha deve ter apenas alguns quilômetros e pelo menos 5% da luz solar é capaz de atravessá-la. Percebo que é muito fácil observar pássaros por aqui. Eles ficam enfileirados nas árvores, paradinhos... as penas devem estar grudadas nos ossos depois de uma semana de chuva. Um deles faz movimentos com a garganta e imagino que está aquecendo suas cordas vocais, tal qual um barítono nas óperas de Verona, para encantar a todos com seus gorgeios.

O que ouço em seguida, entretanto, é um espirro...

Tomo um café e saio a caminhar. Quase não chovia e por isso eu fiquei praticamente seco do umbigo prá baixo. Os gringos parecem se deliciar ao descobrir que chove na "Rain Forest". Veja só que poder tem a linguagem sobre as pessoas! Nós estamos acostumados com as fotos ensolaradas do Rio de Janeiro e achamos que aqui chove tanto quanto no sertão cearense. Já os gringos chamam a Mata Atlântica de Rain Forest, por isso o que eles esperam é chuva mesmo. Devem estar adorando...

À noite fui jantar numa pizzaria. Creio que a instalação de lareiras nas pousadas contrastaria com a imagem tropical do RJ. Mas o dono da pizzaria logo identificou uma oportunidade de negócios e colocou mesas ao lado do forno, muito concorridas, o que justificou inclusive a cobrança de uma sobretaxa. Ao abrir o cardápio, entretanto, vejo que fora sobreposto um grande "X" à palavra "pizza". E logo acima havia escrita uma nova palavra: "ENSOPADOS".

Nada restou seco aqui na ilha. Por isso agora temos Sopa Marguerita, Sopa Quatro Queijos, Sopa de Aliche, Paulista, Portuguesa, Álho e Óleo, Calabresa, Napolitana, Atun, etc.

Falando francamente, essa chuva já enjoou (e já tirei o acento, se é que existia, para melhor me preparar para a reforma ortográfica). Criam Ministério do Turismo, Secretaria Estadual do Turismo, Secretaria Municipal do Turismo, RioTur, Embratur e NINGUÉM FAZ NADA PRÁ ESTA CHUVA PASSAR. Todo esse bando de funcionários públicos confortavelmente instalados em seus gabinetes, recebendo polpudos salários, de braços cruzados esperando o tempo melhorar sozinho. Como diria o Boris Casoy, isto é uma vergonha!!!!!

Vou tentar falar com a moça do tempo que aparece no Jornal Nacional e ver se ela empurra a frente fria pro norte da África. O Sahara deve estar precisando mais dessa chuva que nós. E leva essa Zona de Convergência do Atlântico Sul prá Austrália, ou prá lá um pouco. Se a Rede Globo manda mesmo neste país, como dizem, ela é a minha última esperança.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Em Curitiba novamente


De Kathmandu a Curitiba, foram umas 36 horas...

Depois de pestanejar por 15 horas, acordei no sábado, numa ensolarada manhã outonal, adaptado ao fuso, ao horário, à vida e aos costumes locais.

Fui almoçar. Sábado pede feijoada! Renderia homenagem à nossa terra amada, pátria mãe gentil, onde as aves gorjeiam como em outros prados não o fazem. Prato bem servido, feijão tinto, com paio, costelinha suína, linguiça, carne seca e outros defumados, acompanhado de arroz branco, farofa, couve, cortada fina e refogada em azeite de oliva, e laranja, cuja diretoria do restaurante teve a perspicácia de servir em três opções: laranja-lima, pêra e baiana.

Tive o desprendimento de tomar dois chopp, produção caseira de um mestre cervejeiro austríaco que por aqui reside há mais de 40 anos, servidos em temperatura próxima aos 4 graus Celsius, em copo alto com 3 dedos de espuma densa que vencia a borda para fazer-se escorrer pela superfície externa. A moça que mos trouxe fora privilegiada pela natureza e pelos deuses de plantão no momento de seu nascimento, e por eles supervisionada com igual esmero em seu desenvolvimento. Com seus 1,70 m, 60 quilos bem distribuídos, olhos verde-esmeralda, cabelos negros, fartos, esvoaçantes e longos à altura da cintura, voz levemente rouca e demais atributos que a genética afrodescendente deu às mulheres dos trópicos, fez-me desviar a atenção do líquido dourado por alguns minutos, eventualmente deixando passar despecebidos alguns detalhes relevantes da referida bebida.

O buffet de sobremesa - que contava com doce de abóbora, de mamão e cidra, pêssego em calda, cocada branca e escura, pudim e tortas a perder de vista (sobressaindo as denominadas Marta Rocha, Alemã e Nega Maluca) - não foi, contudo, bem aproveitado, faltando-me apetite para tanto. Saboreei apenas seis das espécies acima referidas.

O preço total de nababesca refeição ficou abaixo de 1.200 rúpias, mas nem este custo pude suportar, já que um amigo insistiu em quitar toda a despesa, argumentando que estava eu com uma aparência faminta de despertar a misericórdia no coração mais duro e, já que ele não contribuía regularmente para o Fome Zero, tentaria auxiliar minha adequada nutrição em ao menos uma oportunidade.

Após sorvido o café espresso, voltando meus olhos ao amplo e arborizado pátio interno, ocorreu-me como é desnecessária e valiosa a vida, assim como cada passo naquela trilha, com seus vários milhares de metros, titubeantes entre aclives e declives, onde o espírito quase se desprega do corpo terreno para voar livre e galgar os degraus que faltam à evolução plena. Melhor seria não ter existido. A matéria que ora chamo de minha estaria polvilhada no éter, integrada a todo o Universo. Mas se aqui estamos, desfrutemos os frutos.

Nem o maior dos banquetes já servido neste mundo ou em outros porventura habitados substitui um ovo cozido no cimo de Chhomrong.
Acredite quem quiser (embora seja prudente duvidar).

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Descendo a montanha











ABC - Birethanti

Machapuchare Base Camp, Deurali, Himalaya, Dovan, Bamboo, Sinuwa, Kuldhigar, Chhomrong, Jhinu, Ghandrung, Kimche, Syauli Bazar e Birethanti. Retorno à civiliação, etapa vencida em três dias, confirmando o ditado popular que apregoa ser a ajuda dos santos mais eficiente quando esta se dá no mesmo sentido da força da gravidade.

Ainda na trilha, na primeira possibilidade de contato telefônico, Poli liga para casa:
"Oi Amor, tudo bem com você? E as crianças? Comigo tudo bem, estou morrendo de saudades. A propósito, você sabe como foi o jogo do Palmeiras e São Paulo ? "
Costumo dizer que com uma preparação física adequada, um equipamento de qualidade, alimentação balanceada, acompanhamento medico permanente, apoio emocional nos momentos mais difíceis, uns 500 balões inflados com gás hélio amarrados à cintura, duas injeções de glicose na veia todo dia, um curso rápido de levitação, um tênis motorizado e muita fé, qualquer um pode fazer este roteiro.

Exageros à parte, fazer uma caminhada no Himalaia não é como passear no parque, mas também não é o mesmo que chegar ao topo do Everest. A estrutura da trilha é muito boa e os guias e carregadores foram excelentes.

Tenho imensas saudades desta viagem. Se você um dia já pensou em fazer este roteiro, vá sem medo, antes que o reumatismo tome conta :)

p.s.: A nossa amizade continua (eles realmente são muito pacientes comigo). Houve cinco eventos de reencontro entre jantares, churrascos e aniversários desde nosso retorno, em maio/2008. Em 2009 pretendemos ir juntos à África, se a cotação do dólar permitir :(

Fotos da viagem são exibidas no site do Rafael (
www.rafaelcosta.com.br), link “pessoal”. A segunda foto da esquerda para a direita tem um link “making of” com uma seqüência fantástica de imagens.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ABC

Caminhamos até o alto do canyon e entramos em um “vale” a 4.000 m, rodeado de montanhas nevadas. À frente o pico sul do maciço Annapurna; às costas o Machapuchare, uma pontiaguda montanha de 6.997 m, ainda não conquistada pelo homem.

E lá estava ele, o azulado último lodge, no Annapurna Base Camp, 4.130 m, ponto mais alto do nosso caminho. Gritos, beijos, lágrimas, fotos, brindes, comemorações, sorrisos, gargalhadas, abraços de todo jeito, de todo tamanho, com vários sentidos e direções, com significados grandes e pequenos. Os felizes conquistadores entregaram-se a prazerosa conversa, rememorando cada passo da viagem.

Em silêncio, suas mentes perceberam o propósito em cada evento que ligava o seu passado ao passado de cada ser que já havia caminhado pela Terra, à matéria que dá forma este planeta, a cada um dos átomos que vibram em choques com seus semelhantes. Assim haviam sido criadas as montanhas e nossas pernas. Aqui elas se encontraram.

No entanto, a noite reservava a mim uma surpresa. Algumas poucas horas depois de dormir, acordo em sobressalto, suando em bicas. Minha conclusão foi imediata: MORRI !!!! E estou no inferno !!!! Haveria outra explicação plausível para suor tão abundante a temperaturas negativas ???

Pois há: sopa de alho !!! Já havia tomado uma ou outra durante o percurso. Naquela noite tomara duas. Uma pedida por mim e outra que estava dando sopa na mesa, desprezada, esfriando num canto.

Noto que meu abdômen continha uns cinco litros de gazes intestinais, a pressionar meu pulmão. Meu umbigo assemelha-se ao de uma gestante. Enquanto isso Roberto “Papa-Léguas” dormia o sono dos justos na cama ao lado, imóvel, com a cabeça coberta, sonhando com uma escalada que fizesse jus aos seus talentos. Passei a noite sentado na cama, acordando e dormindo a cada 5 minutos, até que o dia amanhecesse.

domingo, 20 de abril de 2008

Chhomrong


E lá vamos nós, subindo e descendo, descendo e subindo ladeiras. De Ghorepani (2.860 m) para Tadapani (2.630 m), de Tadapani para Chhomrong (2.170). Denise sorria, saltitava e fotografava.


O impressionante nesta área, além das grandes montanhas, são os terraços. Naquelas encostas em que o desnível desaconselha a prática da agricultura, pude ver terraços a perder de vista construídos apenas com pedras, carregadas e montadas por mãos humanas.


Outro detalhe interessante é a vegetação, com muitas árvores por quase todo o caminho, que só desapareceriam acima dos 3.000 m. Nos primeiros dias caminhamos por entre a “floresta florida” dos rododendros.

Neste ponto a vedação ao consumo de bebidas alcoólicas fora reduzida a pó-de-traque e o núcleo empresarial do grupo já pensava em projetar e executar a construção de um geloduto trans-himalaico, pois a cerveja não era servida a temperaturas que apetecessem ao paladar dos consumidores mais exigentes.

Chhomrong impressionou por possuir máquina de lavar roupas e por sua longa, muito longa, mas muito longa mesmo, descida que, naturalmente, transformar-se-ia em subida no retorno. Tal assunto dominou a conversa por cinco dias (justamente quando a discussão sobre a técnica mais apurada de manejar os sticks perdera força) e só terminou no retorno, quando nosso destino converteu-se em realidade e, ali, na base montanha, atravessando a pequena ponte estendida sobre o rio que por milênios cavara aquele canyon, expiamos todos os pecados ainda restantes em nossas biografias.

Como já era de costume, saímos do alto de Chhomrong (o vilarejo ocupa quase toda a longa encosta), a 2.170 m, fomos até o fundo do canyon, a uns 1.300 m, e depois subimos a Kuldhigar, 2.540 m, antes de chegar a Bamboo, 2.310 m, onde dormimos. Percebemos que a moleza havia acabado!

Roberto “Papa-Léguas”, mestre na arte de manejar duplos sticks, ainda não havia pronunciado dez palavras desde que deixáramos o Brasil. Bocejou longamente, olhando ao infinito e além, como se pensasse aliviado: “finalmente um pouco de exercício, esta trilha já está me dando sono”.

Dali prá frente foi só subida mesmo, praticamente sem nenhuma descidinha que pudesse alegrar o coração. Próxima parada: Deurali, 3.230 m, onde, pela primeira vez houve uma gazeta quase unânime do banho diário. Para tanto contribuíram alguns fatores: o frio e uma chuva de granizo desaconselhavam perambular ao ar livre. E, mais que tudo, a Tiffany havia se adiantado ao nosso grupo, não mais fazendo sentido nosso esforço de melhoria estético-higiênica.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Ghorepani

Ao final do segundo dia de caminhada, estávamos em Ghorepani (2.860 m) e pude verificar que a civilização chega muito além do que se poderia supor, audaciosamente indo onde nenhum trator jamais esteve...

Ghorepani, a Campos do Jordão do Himalaia, com uns 50 lodges, alguns enormes, possuía também uma lan house !!!!!!!!!!!! Que funcionava até no escuro, veja só. Não desejo assustar os mais impressionáveis, mas para mim o dono do lugar tem parte com o demo. Como é que ele faz funcionar um computador sem energia elétrica ?????? À corda é que não pode ser.

Ghorepani nos trouxe, pela primeira vez, a visão desimpedida do Daulagiri e de
 dezenas de quilômetros de imensas montanhas com altura acima de 7.000 metros. Me deu aquela vontade de dizer pra mim mesmo: “Puta que o pariu, ainda bem que eu vim nessa viagem. Como pode tanta gente desperdiçar suas férias viajando pra lugares monótonos como Paris, Londres, Milão e Nova York”.
E nem suspeitávamos que o grande momento da viagem estava prestes a acontecer. Ali conhecemos Tiffany !!!! Foi como se a lua estivesse diante de mim a refletir a luz do sol. Canadense, alta, loira, coxas fortes, busto proemimente, olhar firme, lábios doces, andar balouçante a um só tempo determinado e gracioso, simpática, culta, independente, moderna, desembaraçada, viajada e que, ademais, falava fluentemente inglês. Provocaria  um incontornável cisma no grupo, pois as moças não se conformaram com a atenção que nós, educados cavalheiros que somos, dedicávamos àquele anjo sem asas colocado em nosso meio por intervenção divina.
A perfeição em forma humana acompanhou-nos ainda por três dias, nos quais os casados suportaram beliscões à altura dos rins e greve de sexo.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Começa a Caminhada

Era chegada a hora. Na manhã do quarto dia ficariam para trás todas as dúvidas e planejamentos, receios, medos, pavores, pânicos e comiserações, debates acalorados sobre o melhor tecido a usar na trilha, o diâmetro mais adequado das abas do chapéu, o FPS do filtro solar, os medicamentos necessários, úteis, desejáveis, indiferentes, evitáveis e proibidos, as técnicas de alongamento, o modo perfeito de empunhar um stick ou laçar os cordões das botas. Objetivo final: Annapurna Base Camp, a 4.130 metros.

Meus amados amigos não vão gostar de ouvir isso novamente, mas não resisto à tentação de dizer que era uma caminhada de mauricinho, estilo paulistano, mega-estrutura com uma legião de guias, sherpas e carregadores a nos ciceronear, reservas em lodges, banhos quentes, shows musicais, três refeições quentes por dia, à la carte, com direito à entrada, prato principal e sobremesa. Em casa eu não como tanto...
Nossa única preocupação seria não se perder no caminho e carregar uma mochilazinha com garrafa d’agua, câmera fotográfica, um impermeável... coisas deste tipo. Além de, claro, chegar lá.


Fomos levados até Nayapul (1.070 metros) por um veículo automotor de transporte coletivo adequado às estradas locais, atravessamos uma ponte para entrar na Área de Conservação do Annapurna e... “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”: o trekking começara!


Primeira impressão: a trilha era toda calçada com pedras planas, em longas escadarias, uma trilha muito mais fácil e confortável do que um caminho irregular. Porém, tantas pedras não estão ali à toda, Gafanhoto: o desnível é animal! Trechos planos, semi-planos, quase-semi-planos ou com aclive em ângulo civilizado não seriam comuns. Ou subíamos muito, ou descíamos bastante.
O briefing matinal que o ingênuos turistas fariam ainda por alguns dias mostrou-se um tanto desprovido de utilidade prática. As informações do roteiro diziam algo assim:

Tikhedhungga / Ghorepani
A partir de Tikhedhunga a trilha segue
bastante acentuada com destino a Ulleri, um vilarejo sherpa a 2070 mts. A partir
daí a subida fica mais amena e com belos visuais da floresta de Rhododendron,
passando pelos vilarejos de Bahunthanti e Nayathanti. Mais algumas horas de
caminhada e chegaremos em Ghorepani, nosso destino final de hoje.”
O que o roteiro não dizia é que o Nepal tem evidentes deficiências de terraplanagem: nós sairíamos de 1.430 m, subiríamos a uns 2.000 m, depois descemos até 1.200 m e subimos tudo novamente até 2.860. Mais ou menos isso. Denise, a ginasta, nada respondia às queixas dos mortais: apenas sorria e fotografava, saltitando degraus de par em par.

O primeiro contato com os alojamentos (londges) foi deveras positivo. E assim foi do primeiro ao último. Funcionam muito bem, com quartos simples e confortáveis, colchões e travesseiros, lençóis e fronhas. Houve, entretanto, certa divergência nas opiniões quanto à periodicidade de troca destes últimos, variando de semestral a bienal, dependendo a quem fosse perguntado.

E havia água quente, um presente dos deuses que abundam na religião hindu. O estoque de água caliente não chegava para banhar a todos, mas logo descobrimos o utilíssimo recurso do banho de canequinha, praticada com grande sucesso de público desde os primórdios da civilização latino-judaico-cristã-euro-ocidental. Pedia-se ao estalajadeiro um balde de água quente, o qual era providenciado tão logo o fogão estivesse desencumbido do preparo do jantar. Quem jamais esteve em situação semelhante por certo não imagina como é boa a sensação de não ter de mediar conflitos internos por horas a fio antes de eleger entre tomar banho de água gelada e dormir sujo.

Dormimos em quartos quentes, secos e limpos todas as noites do trekking, o que é infinitamente mais confortável que dormir em barracas.

Nos vilarejos e por toda a trilha há comércio de gêneros de primeira necessidade: chocolates, refrigerantes, batata-frita, lenços, papel higiênico. E também de artesanato manufaturado mundial, objeto de pesquisa constante de Daniela e Cris Japa, as quais distribuíram rúpias e mais rúpias pelo caminho em troca de anéis, brincos, braceletes, tecidos, pashminas, sandálias, objetos de decoração. A cada nova parada os carregadores arregalavam os olhos e procuravam estimar quantos quilos adicionais haveria na bagagem até que acabasse o dia.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Pokhara, Nepal

Embarcamos para Pokhara, a Bariloche do Nepal, com seu imenso lago à guisa do Nahuel Huapi. Um urbanismo que nos lembraria Vancouver, sobretudo porque nosso último termo de comparação era Kathmandu.

Qual não foi nossa surpresa ao ver todos os produtos Cara Nuerte novamente, em enumeráveis lojas dispostas por longa avenida. Um pergunta ocorreu-me naquele momento e não deixa minha memória desde então: qual foi mesmo o motivo da manobra militar das compras no escuro da noite anterior, se poderíamos, no dia seguinte, adquirir os mesmos produtos à luz solar ????

Thamel, Kathmandu, Nepal

Ontem fomos às compras, com a maioria do grupo ainda concentrada em adquirir equipamentos para a caminhada. Pressinto que esta realidade irá mudar, pois há uma dupla de amigas fazendo grande planos para compras de qualquer coisa que passe diante de seus olhos e cartões de crédito.

Inicialmente os conscientes turistas, que muito valorizam a propriedade intelectual e industrial, jamais lhes passando pela mente incentivar a pirataria em qualquer ponto do globo, foram à loja da North Face: produtos de primeira :) preços de Primeiro Mundo :(

E foi ali que Sabino tornou-se o melhor cliente individual da North Face desde a fundação da empresa... Os astronautas vão à Lua com menos equipamentos que os adquiridos por nosso citado colega.



Saindo de lá passamos à filial da 25 de Março no oriente, ao seja-o-que-Deus-quiser nas lojas Cara Nuerte do Thamel (bairro que concentra o maior movimento de turistas).

“Cara Nuerte” é uma carinhosa referência a um certo país da América do Sul, nosso vizinho, no qual se pode encontrar larga gama de produtos importados a preços módicos, desde que a maior preocupação do cliente não seja a procedência das mercadorias.

No Thamel encontraríamos tudo o que precisássemos e não precisássemos: luvas, gorros, parcas, óculos, camisetas, botas, meias, calças, ceroulas, piquetas, piolets, crampones, capacetes, barcos, remos etc. etc. etc. de todas as grandes marcas mundiais, com a vantagem de serem fabricados ali mesmo, a meia quadra de distância, o que proporcionava um preço altamente competitivo.


Estávamos uns 10 de nós em uma espaçosa loja Cara Nuerte, com seus 15 m2 de tamanho e 8 toneladas de produtos engenhosamente distribuídos até o teto, quando acaba a energia elétrica.

Esmorecer nunca, desistir jamais! Tínhamos uma missão a cumprir.

Desconfiamos que o blecaute era uma tática utilizada pelo líder Jota para testar nossos nervos, sagacidade, auto-controle, espírito de equipe e liderança, conhecimentos de tática e estratégia, talento, senso de localização e espaço, e capacidade de solucionar problemas em condições adversas. Continuamos, compactamente adensados, escolhendo os produtos sem ver ou respirar, sem se importar com cor, modelo, tamanho ou mesmo utilidade da peça selecionada. O importante era sair de lá com o menor números de escoriações possíveis, carregando sob os braços os troféus do shopping-aventura.

O próximo desafio seria encontrar o hotel sem uma lâmpada acesa na rua.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Kathmandu, Nepal

Kathmandu é suja, com trânsito completamente zoneado, sem semáforo, sem muitas calçadas para pedestres e com uma noção não muito clara do que seja mão e contramão. A água é encanada, mas não tratada, por isso nosso líder Jota recomenda só tomar água mineral e que também escovar os dentes com esta mesma espécie de água (obs.: esta foi a primeira de muitas recomendações solenemente ignoradas...)


Cada turista faz-se acompanhar por vendedores por pelo menos, 500 metros, antes que estes desistam da vítima. E se chegamos ao ônibus antes que a desistência seja concretizada, eles ficarão lá até que o veículo vá-se embora. Porém, nós, turistas provenientes de país emergente integrante do BRIC, criaturas sagazes que somos em identificar e aproveitar as boas oportunidades que a globalização possa nos proporcionar, verificamos de pronto que o momento decisivo para a finalização das negociações é aquele em que o motorista dá a partida no veículo. Assim, premido pelo tempo e pelo ruído do motor em elevada rotação - fenômeno provocado pela impaciência e, sobretudo, pelo pesado pé do condutor -, na iminência de ver o potencial cliente evadir-se do local, o mercador acaba por ceder generosos descontos.



Esta experiência trouxe-me o primeiro ensinamento oriental: a necessidade da meditação. Seria completamente impossível agüentar tanto vendedor correndo atrás da gente sem uma ajudazinha de Buda, Vishnu, Krishna, demais avatares e outras divindades auxiliares.

Nepal

11 de abril de 2008, Aeroporto de Guarulhos, encontro com outras 18 pessoas que vão ao Nepal, trilhar um dos populares roteiros de caminhada do Himalaia, na área do maciço do Annapurna.

Pra começar, achei meio doideira da agência (Venturas e Aventuras) levar num só grupo­ pessoas com condições físicas e experiências prévias um tanto indefinidas. Tínhamos ao nosso lado, porém, um grande trunfo: João Ricardo, o Jota, “o cara”, a lenda viva do ecoturismo nacional.


Depois soubemos (ou melhor, intuímos) que éramos uma espécie de grupo-cobaia. O Nepal era um Estado Monárquico Absolutista até a década de 1990, quando foram iniciadas as reformas democráticas. A transição já não estava muito fácil e tudo ficou pior quando, em junho de 2001, o Príncipe Dipendra, herdeiro do trono, matou a família toda e suicidou-se. Resumindo a história, ele queria casar com uma moça, não o deixaram e ele, muito macho e embriagado, atirou em todo mundo durante um jantar de família. Um tio de “El Matadar” assumiu o trono. Os maoístas que perambulavam por lá há décadas começaram uma guerrilha que tornou o turismo um tanto arriscado.




Para resolver o problema foi promulgada, em 2007, uma Constituição Provisória e convocadas eleições para uma Assembléia Constituinte. Chegamos, inclusive, no dia desta eleição (13/04/2008). Os maoístas elegeram 2/3 dos representantes da constituinte e este foi o fim da monarquia no Nepal.

Pois bem, agora os turistas poderiam voltar ao país pacificado e a Venturas, afastada de lá por seis anos, levava seu primeiro grupo. E que re-estréia: 19 pessoas!

O grupo é formado por Jota, Toni, Fernando, Fernanda “Frida” Bello, Fernanda Finatti, Denise, Paulo Costa, Ludmila “Poliana”, Roberto “Papa-Léguas”, Sabino, Rafael, Claudia, Cris “Japa”, Cris “Loira”, o outro Roberto não-adjetivado, Daniela, Milton, Poli e eu. Pessoas de profissões variadas, idades nem tanto: a maioria está entre os 40 e 50 anos. Dois casais completos, oito casados sem seus cônjuges e sete solteiros. Seis patrões, cinco funcionários do setor privado, quatro servidores públicos e quatro profissionais liberais. Nenhum estagiário ou aposentado. Todos heterossexuais, aparentemente.

Graças a Deus um dos meus temores não se confirmou: não havia nenhum místico militante no grupo. Morria de medo de ter que ouvir, por 20 dias, tentativas de conversão da minha alma, técnicas do abhyâsa, sutras de Patanjli: Anubhûta-visayasampramosah smrtih. Já estaria imensamente feliz se fosse capaz de pronunciar alguma coisinha da última linha.


Depois de umas 30 horas de vôo e conexões em Londres e Doha, chegamos a Kathmandu, que tem um fuso-horário um tanto esdrúxulo: 8:45 hs. adiantados em relação ao horário de Brasília. E o país está no ano 2.065. Este povo do oriente está realmente à frente do nosso tempo.