quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Mountain Do

MOUNTAIN DO - LAGOA DA CONCEIÇÃO - 2011
O que só eu vi (senti e imaginei)

Saio de Curitiba, apanho meu carona, o Sergio Brackmann e seu inestimável moedeiro do Atlético Paranaense que continha moedas suficientes para pagar todos e cada um dos pedágios que encontraríamos pelo caminho sem incomodar qquer um dos atendentes, abasteço o carro, calibro os pneus e lá vamos nós em direção ao interessante desconhecido Mountain Do, uma corrida de revezamento realizada ao redor da Lagoa da Conceição, Florianópolis,  entre trilhas, praias, dunas e morros do qual participaria, mas sobre o qual tinha apenas uma pálida e vaga idéia. 


Chegando lá uma primeira  notícia caiu-me como uma bomba: acordaríamos às 5:30 hs para estar no ponto de largada às 7:30 hs. É por isso que eu digo: esporte faz mal à saúde ! Deveria estar escrito no primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem: "Todo Homem Tem o Direito de Acordar Tarde". Ouçam o que eu digo: o número de homicídios e divórcios cairia vertiginosamente se as pessoas todas acordassem após as 9:00 hs. da manhã.
Deitei-me pensando nessa atrocidade...

Chegou, pois, a hora de acordar, se levantar, se vestir, tomar café da manhã, tudo isso num momento em que até as pedras ainda dormem e que todo ser humano deveria estar desfrutando do quinto sono. Ouço a 25ª conversa do dia sobre qual carro deveria pegar quem e quando e então partimos, todo mundo pro Lagoa Iate Clube, lugar da largada. De lá, cada carro saiu com seus atletas para seu primeiro posto de troca. Seria deixado lá o corredor que faria o percurso e apanhado aquele que acabou de correr.

Nosso carro tinha por motorista o Filipe que, além de ser gaúcho, não enxergava e não conhecia a ilha (desculpa aí Filipe rs). Aconteceu o óbvio: nos perdemos ! Fomos parar alguns quilômetros adiante do lugar certo. Ao retornar vimos um rapaz vestindo a camiseta verde limão do Mountain Do parado na calçada da Av. do Campeche. Filipe pára o carro e pergunta:
 - Vc sabe onde é o Posto 1 ?
 - Não.
 - Mas vc não é da organização da prova ? O que vc está fazendo aí ?
 - Eu aponto prá lá.

Poucas vezes vi uma resposta tão simples, direta, objetiva, precisa e profissional como aquela. Aplausos para esse rapaz. A gente por vezes imagina que para fazer um bom trabalho precisa ter elevado conhecimento técnico do assunto, ter iniciativa, propor novas abordagens, quebrar paradigmas, ter consciência social e ecológica, preocupar-se com o desenvolvimento sustentável, vencer desafios, mantendo porém o equilíbrio físico, psicológico e familiar, pensar a longo prazo, ter bom nível intelectual, ser uma pessoa fluente, viajada e culta, mas ao mesmo tempo humilde e agradável nos contatos, não esquecendo de cultivar um hobby interessante, estimar de cabeça a raiz quadrada dos números ímpares de zero a cinquenta até a quarta casa decimal e, nas horas vagas, calcular a órbita de cada uma das luas de Júpiter, sem nunca abrir mão da moral e da ética ao fazer cada umas destas coisas.
Na maioria das vezes, entretanto, tudo o que nos pedem e que precisamos realmente fazer é "apontar prá lá".

Após essa instrutiva experiência seguimos nosso caminho e chegamos ao Posto 1. Deixamos o Elvis que faria o Percurso 2, apanhamos o Brackmann que acabara de terminar o Percurso 1, e rumamos para a Praia Mole, onde eu esperaria a chegada do Kaiano (que faria o Percurso 3, logo depois do Elvis) para começar ao correr o Percurso 4.

Os minutos não passam enquanto se espera, todavia quando o momento chega tudo acontece muito rápido. Estava eu ali na zona de transição conversando com a Carol que faria o mesmo percurso pelo octeto feminino, quando vejo, quase por acaso, o Kaiano chegando. Nessa hora a gente não pensa em nada, fui lá agarrei o chip das mãos do Kaiano e saí correndo ladeira abaixo por breves segundo até que a minha alegria acabou: cheguei na Praia Mole... mole, muito mole. Não tente tracionar ali, senão afundará até os joelhos. Ao longo de seus longos 500 metros vencidos a passinhos curtos o tempo passa devagar e a mente devaneia... Naquele momento poderia fantasiar, imaginando ser um descendente de Filípedes, o soldado grego que correu da Planície de Maratona a Atenas, levando a notícia da vitória dos gregos sobre os persas. Pensava, contudo, em algo muito menos glamuroso... 


Assim como a função do rapaz estacionado na Av. do Campeche era "apontar prá lá", minha função específica era entregar o chip ao Paulo Fonseca, que ansiosamente me aguardava no Posto 4 para tomar posse do precioso objeto plástico quadrado e alaranjado. Carregar o chip até o próximo posto! Sim, agora tudo estava claro, para isso estava ali aquela multidão, distribuída em duplas, quartetos e octetos, subindo dunas, amassando areia, pisando na água, descendo morros, chutando pedras. Para quem ali está, entregar o chip é uma missão tão nobre quanto foi a de Filípedes rumo a Atenas ou não muito diferente da missão de descobrir a América, chegar à Lua, cruzar a pé a Antártida ou seguir a expedição de Marco Polo à China.

Vencida a Praia Mole, começo a correr por uma trilha ascendente e descubro que, para meus pulmões, um "leve aclive" é muito diferente de aclive nenhum. Cruzo a Galheta (o primeiro posto de hidratação \o/) e logo depois começa a verdadeira subida, o Morro da Galheta. No início até que tentei correr, mas sempre era interrompido por um canto gregoriano e pela visão de um túnel de luz de onde saíam anjos com vestes brancas me convidando a entrar. Percebi o melhor mesmo era diminuir o ritmo e passar apenas andar até que o topo do morro fosse vencido. Enquanto isso alguns anormais passavam correndo ladeira acima e ainda gritavam para que pessoas nascidas neste planeta saíssem da frente. Nunca a minha vontade de passar a rasteira em alguém foi tão forte. A partir de certo ponto da subida apenas tentei chegar lá em cima inteiro e respirando. Achei melhor chegar com uma respiração menos ofegante e com a cabeça em ordem, pois isso me ajudaria na descida.

A descida foi desabada, rápida e eu nem pensava em frear. Não me lembro de alguém que tenha passado por mim nesse trecho, entre outras coisas porque os corredores inocentemente seguiam a trilha em ziguezague, enquanto a mim me pareceu muito mais rápido cortar caminho pelo meio do capim quando isso era possível.

Chegando lá embaixo mais uns 600 metros de praia (argh! me coloque prá subir quatro morros, mas não me faça correr na praia) e me aproximo do tão esperado Posto de Troca 4, com as pernas tremendo, mas naturalmente sem perder a pose e a oportunidade de gritar "MUIIIITOOOO FÁÁÁÁCIIIIILL". Passo o venerável chip ao Paulo Fonseca. MISSÃO CUMPRIDA ! Já posso desabar na grama. Morreria feliz naquele momento.

Cinco minutos e 4.000 respirações mais tarde sigo com meu carona prá pousada, tomo um banho, durmo meia hora, levanto e sigo para o Lagoa Iate Clube novamente, onde terminaria a corrida. O restante do octeto vai se juntando para aguardar o Fernando, que estava a correr o último trecho. Ele chega e vencemos juntos - Sergio, Elvis, Kaiano, Paulo Fabro, Paulo Fonseca, Filipe, Cleyton e Fernando - as últimas dezenas de metros. Em outros tempos ou outro lugar seria um grupamento de caçadores a voltar da savana trazendo a caça que alimentará toda a tribo, mas hoje apenas escolta o tesouro em forma plástica, o adorável chip alaranjado cujo transporte foi objeto de nossas vidas durante todo aquele dia. 

O Mountain Do é Animal !!!!
hehehe

7 comentários:

Paulo fonseca disse...

Dá-lhe garoto..... ano q vem vamos deslanchar ainda mais e bater nossos próprios recordes e paradigmas.
Experiência inesquecível e como vc falou: O MOUINTAIN DO É ANIMAL !!!!

vitoria disse...

experiência Animal mesmo, amigo!! quem diria heim?!??!?!?
levantando de madrugada e se superando!!
Parabéns pra vc.!!
quando crescer quero ficar igual!!
kkkkkkkk
beijos

Tay Nitz disse...

Parabéns Paulo, superação é tudooo e vc venceu a si próprio e isso é sempre muito bom!!
Ano que vem quero estar junto!!!correndo é claro
bjos, foi um prazer conhecer todos vcs atletas queridos!
Tay

Beatriz disse...

pece,como sempre me fazes rir as gargalhadas. impagável o relato dessa corrida!!

Simone disse...

Oi Paulo!!

muito bacana seu blog, não conhecia. Gostei muito de ver as viagens "buscicle" pela Argentina. Saudades dos tempos em que eu fazia destas (só que de moto! rsrs). Hoje falta cia. Haha vc falou dos olhares das pessoas, impressionadas com a provável distância percorrida de bike! Eu só imaginei as cenas, pois viajando de moto as pessoas já olhavam adimiradas, e muitas vezes em pequenas cidades pq nunca tinham visto uma moto tão grande. rs

Sabrina Scoz disse...

Simplesmente perfeito!!!!

Sara disse...

Interessante é que falar sobre isso, eu também não apenas viajar para lá, espero viajar um pouco mais, espero que este ano para ver se eu posso obter um apartamentos mobiliados buenos aires