segunda-feira, 23 de março de 2009
Crônicas Hospitalares III
sexta-feira, 20 de março de 2009
Crônicas Hospitalares II
quarta-feira, 18 de março de 2009
Crônicas hospitalares I
É hoje o dia de entrar na faca. Ou melhor, no espeto, já que a cirurgia será por videolaparoscopia, aquela em que são feitos três furos na barriga: um para a câmera e outros dois para os instrumentos. Lá vou eu para o hospital com a tranquilidade disponível e aquela preocupação básica: "oh céus, ai de mim, um pobre ser humano às voltas com as deficiências que a biologia me legou".
Confesso que na consulta com o anestesista, há uma semana, levei alguns sustos. Ele falou algo como "é aplicado um anestésico que age no sistema nervoso central e um relaxante muscular. Com isso vc perde a capacidade de respirar". Não quis interromper a conscienciosa exposição do médico, mas, de repente, me peguei a imaginar como seria capaz de prender a respiração por mais de uma hora, mesmo estando desacordado. Seria o novo recorde mundial !!!!
Ele então me disse que eu seria ENTUBADO. Obviamente o anestesista estava duvidando da minha masculinidade... Descubro, em seguida, que o tal do tubo, felizmente, seria colocado na boca e ligado a uma máquina que me faria respirar. Ufa! Contudo nos "esclarecimentos finais" ainda: "caso haja alguma dificuldade de entubar, pode haver danos aos dentes, talvez quebrar algum deles..." Francamente, o médico devia poupar os pacientes de alguns detalhes.
Pois bem, chego ao hosptital às 7:00 hs, para uma cirurgia marcada para as 11:00 hs. Não acontece nada até às 10:30, quando entra um enfermeira, mede a pressão e a temperatura, me dá um avental prá vestir e vai-se embora. Mais uns 10 minutos e vem o maqueiro, apressado, pede prá eu pular na maca e arranca em direção ao centro cirúrgico, falando que tem que correr pq está faltando maqueiro.
O centro cirúrgico me lembrou uma cozinha de restaurante. Gente entrando e saindo das salas de cirurgia, lavando as mãos (eles lavam os braços também) e um barulho de pratos e talheres, que na verdade eram os intrumentos.
O anestesista me pergunta mais uma vez se sou alérgico a alguma coisa e eu respondo a mesma coisa de sempre: "não que eu saiba". Aí começa aquela encenação básica: um médico fala comigo, me pergunta no que eu trabalho, enquanto outro espeta uma agulha na veia. Respondo: "Sou fiscal da Receita Federal. Sei que os médicos não gostam dos fiscais (nem fiscal gosta de fiscal), mas que não pensem em se vingar em mim hehe" E eles então começam a falar da declaração do Imposto de Renda, enquanto eu penso que, por mais profissionalismo que se espere de alguém, aquele realmente não era o momento ideal para prestar informações sobre o assunto.
Mais uns segundos sinto um pequeno formigamneto no ombro e apago. Acordo duas horas mais tarde. A única coisa diferente de acordar de um sono comum foi a pomada nos olhos e os três furos na barriga. Prontinho !!! Simples e rápido !!! Sobretudo depois que já passou. Como diz o velho ditado, "nada a temer, a não ser o próprio medo".
terça-feira, 17 de março de 2009
A geladeira de Godot
Tente imaginar quantas vezes eu tive que ouvir: "você não come, por isso está magro assim" ???? Ora, francamente, meu IMC está em 20,5. A falta de peso só seria um problema de saúde se meu IMC estivesse abaixo de 17.
Contudo, estes argumentos objetivos não a convenceram... ela continua pensando que estou magro e eu não entendo o porquê disso: 63 kg me parece um peso bastante razoável. E, pior, sem nenhuma prova científica que apóie seu ponto de vista, crê que a suposta magreza é consequência do meu saudável hábito de fazer apenas uma refeição completa por dia.
Tudo, porém, tem seu lado positivo: hoje acordei com o primeiro café da manhã já visto (e comido) naquele apartamento desde que me mudei prá lá!!!!!
Subitamente compreendi: minha geladeira enfrenta uma crise existencial ! Não enxerga um propósito para o eterno ligar e desligar de seu compressor, para a circulação dos fluidos, as paredes grossas, as limpas prateleiras envidraçadas, o frezzer potente, os compartimentos elegantes e ergonômicos, a lâmpada oculta que se acende a cada abrir de portas e a tecnologia que lhe permite fazer frio sem fazer gelo.
Tudo pronto e tudo parado. Com a respiração suspensa -- tal qual milhares de pessoas num estádio lotado à espera da cobrança de um pênalti marcado aos 47 minutos do segundo tempo -- aguarda após o raiar de cada dia que algo indefinível e desconhecido finalmente aconteça.
Há, por vezes, aquele corpo humano que abre a porta e debruça-se à sua frente. Com orelhas maiores que os olhos, mira curioso o seu interior por sobre os aros dos óculos, como se olhasse para uma paisagem distante, uma pradaria sob geada ou uma montanha semi-envolta em neblina. Contudo, este parece nunca encontrar o que deseja. Fecha a porta sem outro gesto que lhe permita adivinhar o que veio fazer ali.
Mais uma noite e mais um dia. Quem sabe amanhã...
É preciso encontrar uma solução terapêutica para o problema da geladeira !!!!