quarta-feira, 18 de março de 2009

Crônicas hospitalares I

É hoje o dia de entrar na faca. Ou melhor, no espeto, já que a cirurgia será por videolaparoscopia, aquela em que são feitos três furos na barriga: um para a câmera e outros dois para os instrumentos. Lá vou eu para o hospital com a tranquilidade disponível e aquela preocupação básica: "oh céus, ai de mim, um pobre ser humano às voltas com as deficiências que a biologia me legou".

Confesso que na consulta com o anestesista, há uma semana, levei alguns sustos. Ele falou algo como "é aplicado um anestésico que age no sistema nervoso central e um relaxante muscular. Com isso vc perde a capacidade de respirar". Não quis interromper a conscienciosa exposição do médico, mas, de repente, me peguei a imaginar como seria capaz de prender a respiração por mais de uma hora, mesmo estando desacordado. Seria o novo recorde mundial !!!!

Ele então me disse que eu seria ENTUBADO. Obviamente o anestesista estava duvidando da minha masculinidade... Descubro, em seguida, que o tal do tubo, felizmente, seria colocado na boca e ligado a uma máquina que me faria respirar. Ufa! Contudo nos "esclarecimentos finais" ainda: "caso haja alguma dificuldade de entubar, pode haver danos aos dentes, talvez quebrar algum deles..." Francamente, o médico devia poupar os pacientes de alguns detalhes.

Pois bem, chego ao hosptital às 7:00 hs, para uma cirurgia marcada para as 11:00 hs. Não acontece nada até às 10:30, quando entra um enfermeira, mede a pressão e a temperatura, me dá um avental prá vestir e vai-se embora. Mais uns 10 minutos e vem o maqueiro, apressado, pede prá eu pular na maca e arranca em direção ao centro cirúrgico, falando que tem que correr pq está faltando maqueiro.

O centro cirúrgico me lembrou uma cozinha de restaurante. Gente entrando e saindo das salas de cirurgia, lavando as mãos (eles lavam os braços também) e um barulho de pratos e talheres, que na verdade eram os intrumentos.

O anestesista me pergunta mais uma vez se sou alérgico a alguma coisa e eu respondo a mesma coisa de sempre: "não que eu saiba". Aí começa aquela encenação básica: um médico fala comigo, me pergunta no que eu trabalho, enquanto outro espeta uma agulha na veia. Respondo: "Sou fiscal da Receita Federal. Sei que os médicos não gostam dos fiscais (nem fiscal gosta de fiscal), mas que não pensem em se vingar em mim hehe" E eles então começam a falar da declaração do Imposto de Renda, enquanto eu penso que, por mais profissionalismo que se espere de alguém, aquele realmente não era o momento ideal para prestar informações sobre o assunto.

Mais uns segundos sinto um pequeno formigamneto no ombro e apago. Acordo duas horas mais tarde. A única coisa diferente de acordar de um sono comum foi a pomada nos olhos e os três furos na barriga. Prontinho !!! Simples e rápido !!! Sobretudo depois que já passou. Como diz o velho ditado, "nada a temer, a não ser o próprio medo".

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