domingo, 20 de abril de 2008

Chhomrong


E lá vamos nós, subindo e descendo, descendo e subindo ladeiras. De Ghorepani (2.860 m) para Tadapani (2.630 m), de Tadapani para Chhomrong (2.170). Denise sorria, saltitava e fotografava.


O impressionante nesta área, além das grandes montanhas, são os terraços. Naquelas encostas em que o desnível desaconselha a prática da agricultura, pude ver terraços a perder de vista construídos apenas com pedras, carregadas e montadas por mãos humanas.


Outro detalhe interessante é a vegetação, com muitas árvores por quase todo o caminho, que só desapareceriam acima dos 3.000 m. Nos primeiros dias caminhamos por entre a “floresta florida” dos rododendros.

Neste ponto a vedação ao consumo de bebidas alcoólicas fora reduzida a pó-de-traque e o núcleo empresarial do grupo já pensava em projetar e executar a construção de um geloduto trans-himalaico, pois a cerveja não era servida a temperaturas que apetecessem ao paladar dos consumidores mais exigentes.

Chhomrong impressionou por possuir máquina de lavar roupas e por sua longa, muito longa, mas muito longa mesmo, descida que, naturalmente, transformar-se-ia em subida no retorno. Tal assunto dominou a conversa por cinco dias (justamente quando a discussão sobre a técnica mais apurada de manejar os sticks perdera força) e só terminou no retorno, quando nosso destino converteu-se em realidade e, ali, na base montanha, atravessando a pequena ponte estendida sobre o rio que por milênios cavara aquele canyon, expiamos todos os pecados ainda restantes em nossas biografias.

Como já era de costume, saímos do alto de Chhomrong (o vilarejo ocupa quase toda a longa encosta), a 2.170 m, fomos até o fundo do canyon, a uns 1.300 m, e depois subimos a Kuldhigar, 2.540 m, antes de chegar a Bamboo, 2.310 m, onde dormimos. Percebemos que a moleza havia acabado!

Roberto “Papa-Léguas”, mestre na arte de manejar duplos sticks, ainda não havia pronunciado dez palavras desde que deixáramos o Brasil. Bocejou longamente, olhando ao infinito e além, como se pensasse aliviado: “finalmente um pouco de exercício, esta trilha já está me dando sono”.

Dali prá frente foi só subida mesmo, praticamente sem nenhuma descidinha que pudesse alegrar o coração. Próxima parada: Deurali, 3.230 m, onde, pela primeira vez houve uma gazeta quase unânime do banho diário. Para tanto contribuíram alguns fatores: o frio e uma chuva de granizo desaconselhavam perambular ao ar livre. E, mais que tudo, a Tiffany havia se adiantado ao nosso grupo, não mais fazendo sentido nosso esforço de melhoria estético-higiênica.

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