segunda-feira, 21 de abril de 2008

ABC

Caminhamos até o alto do canyon e entramos em um “vale” a 4.000 m, rodeado de montanhas nevadas. À frente o pico sul do maciço Annapurna; às costas o Machapuchare, uma pontiaguda montanha de 6.997 m, ainda não conquistada pelo homem.

E lá estava ele, o azulado último lodge, no Annapurna Base Camp, 4.130 m, ponto mais alto do nosso caminho. Gritos, beijos, lágrimas, fotos, brindes, comemorações, sorrisos, gargalhadas, abraços de todo jeito, de todo tamanho, com vários sentidos e direções, com significados grandes e pequenos. Os felizes conquistadores entregaram-se a prazerosa conversa, rememorando cada passo da viagem.

Em silêncio, suas mentes perceberam o propósito em cada evento que ligava o seu passado ao passado de cada ser que já havia caminhado pela Terra, à matéria que dá forma este planeta, a cada um dos átomos que vibram em choques com seus semelhantes. Assim haviam sido criadas as montanhas e nossas pernas. Aqui elas se encontraram.

No entanto, a noite reservava a mim uma surpresa. Algumas poucas horas depois de dormir, acordo em sobressalto, suando em bicas. Minha conclusão foi imediata: MORRI !!!! E estou no inferno !!!! Haveria outra explicação plausível para suor tão abundante a temperaturas negativas ???

Pois há: sopa de alho !!! Já havia tomado uma ou outra durante o percurso. Naquela noite tomara duas. Uma pedida por mim e outra que estava dando sopa na mesa, desprezada, esfriando num canto.

Noto que meu abdômen continha uns cinco litros de gazes intestinais, a pressionar meu pulmão. Meu umbigo assemelha-se ao de uma gestante. Enquanto isso Roberto “Papa-Léguas” dormia o sono dos justos na cama ao lado, imóvel, com a cabeça coberta, sonhando com uma escalada que fizesse jus aos seus talentos. Passei a noite sentado na cama, acordando e dormindo a cada 5 minutos, até que o dia amanhecesse.

Nenhum comentário: