quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A idéia de pedalar

Num belo domingo alguém acorda de bem com a vida, depois das 14:00 hs...
Convenhamos, não há como acordar de mau humor quando se desperta após o meio-dia. Há anos defendo a aprovação de uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU proibindo qualquer atividade humana antes das 10:00 hs. da manhã. Em dias úteis, naturalmente... pois nos finais de semana seria proibido acordar enquanto houvesse luz do dia.
Ouvi dizer que querem colocar na Constituição Federal o direito à busca da felicidade, como se ela estivesse perdida, escondida ou sequestrada e mantida em cativeiro. Pura balela. Deveriam aprovar uma emenda constitucional prevendo o direito de acordar tarde, seria infinitamente melhor.
Escrevam o que eu digo: os índices de homicídios e divórcios cairão vertiginosamente quando todos puderem acordar tarde !!!

Vamos começar novamente este parágrafo...
Num belo domingo alguém acorda após as 14:00 hs. de bem com a vida, a tempo de tomar um banho de 40 minutos que outrora chamar-se-ia muito higiênico e hoje é acossado por anti-ecológico e de ligar para um disk pizza de um telefone fixo pois seu desconhecimento técnico o leva a imaginar que seja isto mais sustentável do que uma ligação de aparelho móvel e assim compensaria a ducha tão demorada antes de se instalar confortavelmente defronte à TV para aguardar o início da partida de futebol que desde a alteração do fuso para o horário de verão só ocorre às 17:00 hs.

Quase sem querer olha pela janela e percebe aquela chuvinha continuada começada na sexta-feira e que não dá ares e nem suspiros quanto mais esperanças de terminar antes da próxima década. Lá embaixo (habita ele o 9º andar...) passa um rapaz montado numa bicicleta "customizada" com aros de dimensões diferentes e outras adaptações que terminam por compor um conjunto que juraria um cidadão comum ser obra de Joãosinho Trinta retirando versos da alma lírica preenchedora de cada alvéolo pulmonar numa voz surpreendentemente afinada para quem se dispõe a cantar música sertaneja em público: "Não aprendi dizer adeus, mas deixo vc ir sem lágrimas no olhar, se o adeus me machucar, o inverno vai passar, e apaga a cicatriz".

O rapaz do 9º andar ao qual negamos um nome porque nome não se dá a uma personagem cuja história termina em três parágrafos rumina entredentes e assim o faz pq mesmo os bovinos mais experientes não sabem outra forma de ruminar senão entredentes: "Pedalar libera endorfina... Só assim prá esse cara estar tão feliz pedalando na rua tão cedo".

De repente e antes que pudesse soletrar a palavra "Schwarzenegger" de trás para frente, como o vento que entra assoviando pela fresta da fechadura, fenômeno que jamais presenciei mas se está escrito é porque existe, ele está atravessado pela idéia de sair por aí a pedalar distâncias infinitas até o fim do mundo entre intemperies atrozes tão distantes de seu confortável casulo e que só tem por lembrança em razão dos desastres naturais continuamente noticiados pela mídia em seus múltiplos meios. Sente-se capaz de atravessar oceanos inteiros sem escalas, conexões ou barrinhas de cereais se acaso inventassem uma bicicleta que tenha por qualidade a flutuabilidade positiva. Olha as próprias pernas e avalia mentalmente a força delas. Tantas anilhas no leg press devem servir a algum propósito...
No segundo seguinte está a pensar: "Qual será a distância máxima do delivery do disk pizza ???????"

Não sei como nasce em alguém a idéia de viajar de bicicleta. Alias, não sei como nasce em alguém qualquer que seja idéia. Aprendi que do nada, nada sai, mas as idéias parecem seguir outra lógica.

No meu caso a origem da idéia está na infância. Freud postula serem todos os nossos impulsos originados na infância, mas não é dessa origem inconsciente que falo e sim de algo bem mais evidente.

Minha mãe cotidianamente mandava o meu irmão mais jovem e a mim prá lá da PQP prá buscar ou levar alguma coisa na casa de alguma tia ou amiga. Acredite-me: qualquer um que, com 10 ou 12 anos, é capaz levar uma Monareta, aros 20 que só tiveram os raios apertados uma vez na fábrica e nunca mais, sem marchas e com "eficientíssimos" freios contrapedal, pedalando até a casa da Tia Zenaide que ficava praticamente em outro município, sente-se capaz de viajar até a Lua numa bike melhorzinha.

Comigo foi essa a origem.

2 comentários:

Beatriz disse...

não sou eu que explico, mas sim freud, viu pece? veja bem: o teu desejo de "punição" - andar de bike - decorre da culpa que sentes ainda pelos impropérios lançados a santinha de tua mãe enqto pedalavas até a casa de tia zenaide.tadinho....do trauma então desponta o ciclista!!

Paulo Cesar Fabro disse...

Até onde eu sei, Freud não sabia andar de bicicleta. E se soubesse, duvido que chegaria à casa da Tia Naide. Que moral ele tem prá dar palpite nisso ???
rsrs